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Leonardo Sakamoto

REPORTAGEM

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'Reclamavam do wi-fi', diz conselheira da OAB após visitar golpistas presos

Após desmonte de acampamentos, bolsonaristas foram levados para ginásio da Polícia Federal - Reprodução
Após desmonte de acampamentos, bolsonaristas foram levados para ginásio da Polícia Federal Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

11/01/2023 12h31

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"Havia pessoas conversando com a parede. Outras reclamando que a Polícia Federal não garantia acesso de wi-fi aos presos. Um deles me disse que deveria ser considerado um herói porque não deixou que incendiassem o Palácio do Planalto, apesar de ele também ter invadido o prédio."

A avaliação foi feita à coluna pela advogada criminalista Flávia Guth, conselheira da Ordem dos Advogados do Brasil no Distrito Federal. Ela está contribuindo com um grupo de trabalho incumbido pela OAB de produzir um relatório sobre a situação dos direitos humanos dos detidos pelos atos golpistas em Brasília do último domingo (8).

Ela afirma que visitou o local, nesta terça, e entrevistou mais de 40 custodiados que negaram terem sido maltratados, agredidos e violentados. Equipes de bombeiros prestavam atendimento médico rapidamente aos presentes. Situação, portanto, bem diferente do que ocorre em casas de detenção e delegacias com a população pobre Brasil afora.

Segundo a conselheira da OAB, há pelo menos dois grupos entre os que estão detidos no espaço da PF: um com pessoas que entendem o que está acontecendo, alguns dos quais exercendo papel de liderança. E outro descolado da realidade, sem compreensão da gravidade do que fizeram e que serve como massa de manobra.

Este segundo grupo tem a certeza de que está em um processo revolucionário para trazer a paz e garantir a democracia ao Brasil. Parte dele, inclusive, já apresentaria distúrbios mentais antes mesmo de serem presos.

Por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, os golpistas foram detidos e o acampamento em frente ao Quartel-General do Exército desmontado. A medida foi tomada após a invasão, depredação e pilhagem do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do STF, em atos terroristas.

"Um deles gritou para mim: 'olha para a minha cara, olha para minha cara! Agora, veja como eu sou perigoso", contou a conselheira da OAB. Segundo ela, ao cair a ficha de que foram detidos pela polícia, alguns passam a repetir "não sou bandido de verdade" e expressões similares.

Na sua avaliação, há quem precise responder perante à lei, mas há quem também necessite de acolhimento. Isso confirma o alerta de psiquiatras, nas últimas semanas, de que os protestos de caráter golpista, que se espalharam em torno de quartéis de todo o país após a derrota de Jair Bolsonaro, atraíam pessoas de todo o tipo, inclusive indivíduos solitários e com problemas mentais.

Boatos e mentiras circulam entre os detidos

Flávia Guth, que também é diretora do Instituto de Garantias Penais (IGP) e membro da União de Mulheres Advogadas, alerta para a importância de individualizar a conduta dos que estão passando pela triagem no espaço da Polícia Federal.

Isso inclui diferenciar não apenas o local em que foram presos (invadindo prédio público, em confronto com a polícia, no acampamento, na estrada), mas também as circunstâncias. "As pessoas precisam saber do que estão sendo acusadas e pelo que responderão", explica.

Por mais que a polícia esteja sendo célere para realizar as entrevistas e a triagem, a permanência dos bolsonaristas naquele espaço vai fermentando com o tempo. E com isso, surgem mais boatos e mentiras. Nesse sentido, manter centenas de detidos por lá pode se tornar um barril de pólvora.

Pois alguns estão sedentos por um mártir. De acordo com a conselheira da OAB, ela ouviu insistentemente a mentira de que uma mulher idosa teria morrido no espaço de detenção. Tentava explicar aos detidos que isso não havia acontecido, mas eles não aceitavam os fatos, preferindo ficar com a fake.

Não houve nenhum óbito e a imagem que circula nas redes sociais da suposta "vítima" é, na verdade, de uma pessoa que faleceu há três meses.

Mulheres com crianças já foram dispensadas, mas o processo envolvendo os idosos estava mais lento, segundo Flávia Guth. Apesar de a PF ter priorizado o atendimento a esse grupo por questões de saúde, muitos acreditaram em boatos que circulavam entre os golpistas e não queriam passar pela triagem.

Algum bolsonarista disse a eles que os idosos que iam embora estavam sendo removidos para o Complexo Penitenciário da Papuda, quando, na verdade, a quase totalidade era liberada.