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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaristas montaram 'Disneylândia' golpista em frente ao QG do Exército

Colunista do UOL

27/01/2023 17h35

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Se Orlando, na Flórida, virou destino de famílias do mundo inteiro interessadas em ir à Disney ver o Mickey, Brasília não deixou por menos. Por mais de dois meses, a capital federal contou com um centro de diversões golpista, cheio de patetas, em frente ao Quartel-Geral do Exército. O primeiro grande parque temático antidemocrático do planeta.

Tanto as denúncias assinadas pelo coordenador do Grupo Estratégico de Combate aos Atos Antidemocráticos do MPF, o subprocurador-geral da República Carlos Frederico Santos, quanto o relatório que o interventor federal na área de Segurança Pública do Distrito Federal, Ricardo Capelli, entregou ao STF apontam que o local tinha estrutura para reunir e manter centenas de pessoas.

Sala para teatro de fantoches, local para a realização de massagens, áreas de descanso e relaxamento, lanchonetes e refeitórios, postos de atendimento médico, serviço de transfer, banheiros, geradores para não deixar a peteca cair, áreas de carregamento de aparelhos e segurança com militares pagos pelo dinheiro público.

O "parquinho golpista" ofereceu a seus frequentadores uma base atacar a sede da Polícia Federal e queimar de carros e ônibus no dia 12 de dezembro, para planejar e organizar a colocação de uma bomba em um caminhão de combustível a fim de explodir o Aeroporto de Brasília na véspera de Natal e, finalmente, para invadir e depredar o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal do dia 8. Um "divertimento" tétrico.

"O acampamento apresentava uma evidente estrutura a garantir perenidade, estabilidade e permanência dos manifestantes que defendiam a tomada do poder", afirmou Santos. "Não era um acampamento comum", mas "uma verdadeira minicidade golpista em frente ao QG do Exército", disse Capelli.

Ambos avaliam que o local serviu aos ataques à democracia, entre a derrota de Bolsonaro e a tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro. "Esses elementos saiam do acampamento, praticavam atos e depois regressavam para dentro do Setor Militar Urbano", explicou o interventor federal.

A Disneylândia golpista tinha uma coisa que a suas contrapartes norte-americanas não têm: segurança com treinamento militar cujo salário é pago pelo contribuinte.

O Exército impediu a entrada da Polícia Militar no acampamento na noite do dia 8 para prender os envolvidos nos atos golpistas. Dois blindados foram deslocados para a entrada do Setor Militar Urbano, para deixar claro o recado. As prisões puderam acontecer só na manhã seguinte, dando tempo para muitos escaparem. Principalmente familiares e amigos de militares que estavam por lá.

O então comandante do Exército, general Júlio César de Arruda, é apontado com um dos responsáveis por isso. Ele foi exonerado a mando de Lula e, em seu lugar, assumiu o general Tomás Ribeiro Paiva, que defendeu o resultado das eleições.