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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Golpismo de Valdemar respinga em Rogério Marinho na sua disputa pelo Senado

Valdemar da Costa Neto e Michelle Bolsonaro em jantar em prol de Rogério Marinho -  O Antagonista
Valdemar da Costa Neto e Michelle Bolsonaro em jantar em prol de Rogério Marinho Imagem: O Antagonista

Colunista do UOL

31/01/2023 18h49Atualizada em 31/01/2023 20h23

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Valdemar da Costa Neto tentou convencer que ter uma proposta de golpe de Estado guardada em casa no final do governo Jair Bolsonaro era a coisa mais normal do mundo. Por conta disso, a Polícia Federal pediu, nesta terça (31), e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, autorizou que ele seja intimado a contar mais sobre isso.

Dessa forma, o presidente do PL afunda ainda mais a imagem do partido, transformado em office boy do golpismo, o que respinga na campanha do seu correligionário Rogério Marinho - que tenta vencer Rodrigo Pacheco (PSD) na disputa pela Presidência do Senado nesta quarta (1º).

E joga contra o esforço de bolsonaristas que passaram os últimos dias se esfolando nas redes sociais para fazer crer que o PL do Senado, esperança da extrema direita, é democracia pura.

Valdemar tentava passar pano para o fato de a PF ter encontrado uma minuta de golpe militar na casa de Anderson Torres. O ex-ministro da Justiça e homem de confiança de Jair hoje está preso no 4º Batalhão de Polícia Militar do Distrito Federal, mas por outra razão. Ele teria propositadamente se omitido de suas funções como secretário de Segurança Pública, permitindo a invasão e depredação do Palácio do Planalto, Congresso Nacional e STF no dia 8 de janeiro.

"Nunca comentei, mas recebi várias propostas", afirmou Valdemar em entrevista ao jornal O Globo. "Aquela proposta que tinha na casa do ministro da Justiça, isso tinha na casa de todo mundo."

Ele diz que destruiu o que recebeu. Por que não encaminhou para as autoridades? Agora, a PF quer ouvi-lo exatamente no inquérito da minuta golpista achada na residência de Torres.

(Vocês vão se lembrar dessa entrevista. Foi a mesma em que ele ainda desenhou um Bolsonaro estúpido, frágil e hipossuficiente, que se esfacelava de tristeza por ter perdido a eleição, e na qual "lançou" a ex-primeira-dama, Michelle, como candidata à Presidência da República em 2026.)

Bem, na minha casa não tem nenhuma proposta para permitir às Forças Armadas tomarem o Tribunal Superior Eleitoral de assalto, jogarem fora os votos da maioria dos eleitores e cancelarem a vitória de Lula. E desconfio que na sua residência, caro leitor, cara leitora, também não seria encontrado nada do gênero.

Em que lugar as pessoas acham normal ter uma proposta de golpe em casa? Em um governo golpista ou um ambiente repleto de seus apoiadores. No rega-bofe em prol da campanha do bolsonarista Rogério Marinho à Presidência do Senado, nesta segunda (30), vários deles podiam ser encontrados a começar pelo próprio Valdemar e pela ex-primeira-dama. Bolsonaro, que segue nos Estados Unidos fugindo da Justiça brasileira, participou de forma remota.

Na mesma entrevista que ensejou a ação da Polícia Federal, Valdemar reconheceu que o ex-presidente só não deu o golpe porque "não viu maneira de fazer". E tem gente que ainda pede anistia.

Condenado no escândalo do mensalão durante o governo petista, Valdemar abraçou o bolsonarismo e filiou o então presidente a seu partido. Ganhou a maior bancada da Câmara nas eleições, com 99 parlamentares - e, portanto, o maior fundo partidário e eleitoral. Como pedágio, tornou-se peça-chave no ataque ao Estado democrático de direito.

O PL entrou com uma ação junto ao TSE para tentar cancelar 59% dos votos apenas no segundo turno a fim de evitar a vitória de Lula. O ministro Alexandre de Moraes não apenas negou o pedido, como impôs uma multa de R$ 22,9 milhões por litigância de má-fé.

A PF, agora, quer saber se, além de assistente de golpe, o PL também se tornou uma caixa postal de propostas golpistas, já que elas apareciam em todos os lugares. Velha raposa da política, Valdemar inadvertidamente deixou aflorar um desejo de ser companheiro de cela de Torres.