Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Lula consegue grana dos EUA enquanto Bolsonaro ameaçava Biden com pólvora
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Lula e Joe Biden devem anunciar contribuição dos Estados Unidos ao Fundo Amazônia, nesta sexta (10), durante visita do brasileiro ao seu colega norte-americano. A comparação com o governo Bolsonaro é gritante. Jair não apenas levou ao bloqueio de doações ao fundo como passou vergonha em inglês ao ameaçar Biden com "pólvora" das Forças Armadas devido à pressão para preservar a floresta - as mesmas Forças Armadas que se omitiram diante de mortes entre os yanomamis.
A área desmatada na Amazônia caiu 61% em janeiro de 2023 em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Isso não significa que o problema está resolvido, mas é um indicativo de que a saída de Jair "Tronco Queimado" Bolsonaro traz esperança para a maior floresta tropical do mundo e para o clima do planeta.
O sistema Deter é menos preciso que o Prodes, que traz os dados consolidados anualmente, mas é usado para guiar políticas de combate a crimes ambientais em tempo real. Os dados são um indício de que a chegada de Lula, Marina Silva e Sônia Guajajara, entre outros, muda o contexto de Casa da Mãe Joana que permitiu a esbórnia de desmatadores, garimpeiros, grileiros, pecuaristas ilegais.
Talvez a principal diferença é a percepção por parte dos criminosos de que a fiscalização, que apanhou diuturnamente nos últimos quatro anos, volta a ter força. Já é uma glória não termos mais um presidente que ameaça fiscais do Ibama, ICMBio, da Funai, Incra... e o presidente dos Estados Unidos.
Em novembro de 2020, Jair ameaçou Joe Biden, quando o então candidato à Presidência dos Estados Unidos afirmou que o Brasil poderia sofrer consequências econômicas caso não parasse de destruir a floresta. O que nem era uma previsão, mas uma constatação, uma vez fundos de investimento já estavam tirando dinheiro do país por conta do nível acelerado de destruição da região.
"Assistimos há pouco a um grande candidato à chefia de Estado dizer que, se eu não apagar o fogo da Amazônia, levanta barreiras comerciais contra o Brasil. E como é que podemos fazer frente a tudo isso? Apenas a diplomacia não dá, não é, Ernesto [Araújo, chanceler demitido por fazer muita bobagem]? Quando acaba a saliva, tem que ter pólvora, senão não funciona", disse.
Insatisfeito com a meta de vergonha alcançada na primeira declaração, Bolsonaro resolveu dobrar a meta e deu outra.
"Ele [Biden] está querendo, parece, romper o relacionamento com o Brasil por conta da Amazônia. Sabemos que alguns países do mundo têm interesse na Amazônia. E nós temos que fazer o quê? Dissuadi-los disso. E como você faz a dissuasão disso? Ter Forças Armadas preparadas", afirmou.
Vale ressaltar que a falta de ação das Forças Armadas alimentou o genocídio yanomami e criou o contexto de terra de ninguém na fronteira, o que levou à morte do indigenista Bruno Araújo e do jornalista inglês Dom Phillips, assassinados no Vale do Javari.
Agora, com o Brasil sob nova administração, os Estados Unidos vão anunciar a injeção de recursos no bilionário Fundo Amazônia após encontro entre Biden e Lula, nesta sexta (10), como adiantou a Folha de S.Paulo. Alemanha e Noruega também voltaram a pingar um capilé por lá, o que havia sido bloqueado nos últimos anos devido à antipolítica ambiental de Bolsonaro.
O desmatamento da Amazônia não começou e não terminará com Jair, mas o presidente o transformou em um símbolo de seu governo a ponto de ser visto como um pária climático global e um carrasco das gerações futuras. Em nome da floresta no chão, atacou a fiscalização, passou pano para criminosos, financiou desmatadores.
Temendo a derrota daquele que os ajudou, madeireiros e garimpeiros ilegais, grileiros de terra e produtores rurais que agem ao arrepio da lei correram para colocar o máximo de floresta no chão em 2022. Sabem que Lula não daria a mesma vida fácil. Precisavam fazer tudo o que puderem agora que o governo é deles.
E fizeram. A Amazônia perdeu 10.573 km² de cobertura vegetal em 2022 - a maior destruição registrada nos 15 anos de levantamento do instituto Imazon. O que também ajuda a explicar a diminuição registrada neste mês de janeiro.
Não adiantava governos estrangeiros injetarem bilhões para combater o desmatamento na Amazônia se o governo continuasse enfraquecendo fiscalizações e garantindo um ecossistema de financiamento público que premia quem destrói. Agora, como mostram os números, a tendência é de mudança.
Qualquer investidor de fundo internacional com o mínimo de bom senso não acreditou no teatro montado pelo governo Bolsonaro para convencer que o país estava preocupado com o salto no desmatamento da Amazônia e que faria tudo ao seu alcance para diminui-lo.
Com isso, Jair queimou dinheiro tal como queimou floresta. Esperemos que a chegada de Lula seja, de fato, um banho de água fria nos interesses dos bolsonaristas rurais.