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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonarismo perdoa Jair por joia e celebra linchamento por furto de comida

Colunista do UOL

08/03/2023 09h17Atualizada em 08/03/2023 22h16

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Um naco da extrema direita está dando duro nas redes sociais para minimizar que Jair Bolsonaro teria surrupiado um estojo com produtos de luxo de, pelo menos, R$ 400 mil. Ironicamente, o grupo é o mesmo que costuma celebrar quando alguém que furtou um bife por causa da fome é espancado no supermercado.

A ditadura da Arábia Saudita deu joias no valor de R$ 16,5 milhões para Michelle Bolsonaro e um estojo com relógio, abotoaduras, caneta, entre outros artigos, valendo cerca de R$ 400 mil ao então presidente, aponta investigação do jornal O Estado de S.Paulo. A razão para isso ninguém sabe ainda, mas as possibilidades vão de suborno e propina à caixa 2.

O pacote destinado à primeira-dama foi confiscado ao entrar como muamba ilegal no Aeroporto de Guarulhos. O de Jair, passou, usando a comitiva do ex-ministro Bento Albuquerque como mula, e foi entregue a ele. Está em seu acervo privado, mas as regras apontam que um presente desse valor deve ficar na União e não no Condomínio Vivendas da Barra.

Claro que alguém que usava funcionários fantasmas em seu gabinete quando deputado federal, fazendo com que parentes da ex-esposa empregados irregularmente devolvessem a ele a maior parte dos salários pagos pelos cofres públicos não teria problema de tentar outras formas de apropriação indevida. Da rachadinha de salários às joias da Arábia, Jair chegou lá.

O crime de peculato, previsto no artigo 312 do Código Penal, prevê de dois a 12 anos de xilindró para um funcionário público que se apropria de um bem em benefício próprio ou de terceiros. Enquanto isso, o furto (artigo 155 do Código Penal) ocorre quando alguém subtrai coisa alheia móvel para si ou para terceiros sem o emprego de violência, com pena de um a quatro anos.

São dois crimes bem diferentes, mas o primeiro é muito mais grave. Como se trata de Jair, seus políticos e seguidores passam pano.

No final do ano passado, dois homens foram torturados por cinco seguranças do supermercado UniSuper, em Canoas (RS), diante do gerente e do subgerente da loja, após tentarem furtar duas peças de carne. Vítima das piores agressões, um homem negro foi colocado em coma induzido no hospital com fraturas no rosto e na cabeça. Em abril de 2021, um tio e um sobrinho, que furtaram carne de uma unidade do Atakadão Atakarejo, em Salvador, foram encontrados mortos com sinais de tortura e marcas de tiro.

E o que há em comum em todas elas, além de um país definido pelo racismo em todos os níveis de suas relações sociais? Quem monitora as redes sociais e aplicativos de mensagens sabe que, em todos os casos, foram constantes as celebrações quando alguém que furtou comida é morto em redes da extrema direita. "Bandido bom é bandido morto", dizem.

Discordo. Prefiro que Jair Bolsonaro responda à Justiça por afanar patrimônio da União e não ao justiciamento miliciano que ele mesmo fomentou.