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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Incapaz de gerir nem uma birosca, Bolsonaro queimou R$ 2 bilhões em vacinas

Colunista do UOL

14/03/2023 20h31

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O que acontece quando uma turma que não sabe administrar uma birosca é eleita para presidir um país com mais de 210 milhões de habitantes? Mais de 39 milhões de doses de vacinas contra covid-19 vencem antes de serem aplicadas. Em outras palavras, o governo Jair Bolsonaro jogou, pelo menos, R$ 2 bilhões no incinerador.

Isso daria para comprar mais de 117 conjuntos de R$ 17 milhões com colares e brincos de diamantes, mas também relógios e abotoaduras de ouro, como aqueles que foram "presenteados" pela Arábia Saudita e Jair tentou surrupiar para o seu patrimônio pessoal. A comparação ajuda a nos lembrar que o prejuízo da família Bolsonaro ao país não é na escala de milhões, mas de bilhões. Muitos bilhões.

Reportagem da Folha de S.Paulo mostra, nesta terça (14), que foram 1,9 milhão de doses perdidas em 2021, 9,9 milhões em 2022 e o restante neste início de de 2023 - o planejamento para aplicação neste momento teria que ter sido feito pela gestão anterior.

Caso o governo passado tivesse realizado campanhas para levar a população a se vacinar, esses estoques provavelmente estariam vazios. Mas Jair fez exatamente o oposto: derramou negacionismo tentando convencer, através de discursos e lives, que a vacina causava Aids, que matava adolescentes, que fazia crescer barba em mulheres, que transformava pessoas em jacarés ou que, simplesmente, era inútil e não funcionava.

Não colou na maioria da população, graças à confiança dos brasileiros no Programa Nacional de Imunizações. Mas tem muito chinelo velho para esse discurso de pé cansado.

Ao mesmo tempo, a incapacidade de gestão fez com que sobrassem vacinas convencionais e faltassem doses pediátricas e bivalentes - aquelas que imunizam contra mais de uma cepa do SARS-COV-2 ao mesmo tempo. Com isso, sofreram (e morreram) crianças, idosos e pessoas imunodeprimidas. Mas como sempre dizia Jair, "a morte é o destino de todo mundo".

A incompetência estrutural do governo na área da Saúde não é novidade. Outra reportagem da Folha, de 6 de setembro de 2021, apontava que a pasta deixou vencer medicamentos, vacinas, testes de diagnóstico e outros itens avaliados em mais de R$ 240 milhões. Todos esses produtos foram destinados também à incineração.

A lista de produtos incluía insulina suficiente para 235 mil pacientes com diabetes durante um mês, 12 milhões de vacinas para gripe, BCG, hepatite B, varicela, entre outras doenças, e remédios para hepatite C, câncer, Parkinson, Alzheimer, tuberculose, esquizofrenia, artrite reumatoide, transplantados e problemas renais, entre outros. Muitos dos quais faltavam em postos de saúde.

Sem contar os milhões de testes RT-PCR (os melhores para covid-19) que venceram nos estoques do Ministério da Saúde durante a pandemia. Segundo documento da CPI, foram mais de 2,3 milhões de unidades.

Para ser honesto, a incompetência de Jair Bolsonaro, Eduardo Pazuello e Marcelo Queiroga à frente da gestão da Saúde assusta qualquer dono de birosca bem intencionado.

Para além da responsabilização criminal, uma condenação que tomasse os bens dos envolvidos para cobrir parte do prejuízo público, era o mínimo que se espera do sistema de Justiça. Desde que não seja pago com os "presentes" que Jair recebeu durante sua gestão por serviços prestados contra a República brasileira.