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Ataques bolsonaristas a general são cortina de fumaça a golpismo de Jair
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A aprovação dos bolsonaristas Anderson Torres, Mauro Cid, Augusto Heleno e Braga Netto para a primeira leva de convocados pela CPMI dos Atos Golpistas levou a uma enxurrada de postagens dos seguidores do ex-presidente nas redes sociais. Além de reclamar do que chamam de perseguição, clamavam também pela convocação do general Gonçalves Dias.
Os governistas conseguiram segurar o convite ao ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, responsável pela Agência Brasileira de Inteligência, o que representou outra derrota da oposição - que, ironicamente, foi a idealizadora dessa comissão de investigação.
A intenção é que ele seja chamado mais para frente, após parlamentares da base de Lula na CPMI contextualizarem como a tentativa de golpe foi armada pelo bolsonarismo.
Desde que uma horda vestida de amarelo invadiu e depredou o Palácio do Planalto, o Congresso e o STF, após meses de acampamentos golpistas em todo o país tem sido hercúleo o esforço de aliados de Jair em convencer que o ex-presidente não teve nada a ver com aquilo apesar das evidências de que fomentou abertamente um golpe de Estado.
Para tanto, abraçam a tese de que o governo Lula é o principal responsável pela agressão que ele próprio sofreu por ter, supostamente, enfraquecido a segurança da sede do Poder Executivo. Por esse ponto de vista, o dono de uma casa é que deve ser punido pelo roubo que sofreu ao não ter colocado lanças no portão ou cacos de vidro no muro.
Para instalar a CPMI dos Atos Golpistas, os bolsonaristas usaram como justificativa a inação do general Gonçalves Dias, então ministro-chefe do GSI da Presidência da República. Ele aparece em imagens do circulo interno do Palácio do Planalto entre invasores, no fatídico 8 de janeiro, sem saber o que fazer.
Somou-se a isso o fato que Dias, como revelou a Folha, recebeu alertas de inteligência, via WhatsApp, tratando do risco de invasão de prédios públicos em Brasília por bolsonaristas armados. Nova reportagem do jornal, nesta quarta (14), revela que ele mandou suprimir de um relatório a informação de que havia recebido tais alertas porque a comunicação não teria sido feita por canais oficiais.
Em depoimento à Polícia Federal, no mês passado, o general disse que não efetuou prisões no Palácio do Planalto porque não tinha condições de fazer isso sozinho e pelo fato de agentes de segurança já estarem detendo os invasores nos andares de baixo do edifício. Não importa, deveria ter dado voz de prisão.
O general, que deixou o cargo após as imagens de vídeo terem vindo a público, tem muito a explicar ainda sobre a sua incompetência em lidar com o ocorrido. Se ele não confiava nos alertas porque havia herdado uma equipe bolsonarista do general Augusto Heleno, que mudasse os postos-chave de seu time na transição. Afinal, estamos falando do GSI, não de uma birosca.
Mas afirmar que a culpa pela tentativa de golpe de Estado é do comportamento de Gonçalves Dias que esconderia uma estratégia de Lula para se vitimizar, é uma narrativa absurda que serve para tentar amenizar o impacto das cenas do 8 de janeiro na retina daqueles que ainda põem fé no capitão. O bolsonarismo tenta encobrir o golpismo usando a incompetência do general
A fumaça produzida pelos ataques a Dias nas redes ajuda a relativizar também a aprovação dos requerimentos para convocar o ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, e o ex-ajudante de ordem de Jair, o tenente-coronel Mauro Cid. Só para resumir: a PF encontrou um rascunho de dois golpes de Estado na posse de cada um deles.
Isso além dos generais Heleno, já citado, e Braga Netto, candidato a vice de Jair.
Isso por enquanto. Quais outros nomes serão chamados após a investigação da Polícia Federal em curso, supervisionada pelo ministro Alexandre de Moraes, revelar novidades?