Leonardo Sakamoto

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Opinião

Bolsonaro fugirá caso seja condenado ou vai enfrentar a prisão como Lula?

Diante das investigações da Polícia Federal que apontam Jair Bolsonaro no centro de um esquema de desvio e venda de ouro e joias que pertencem ao povo brasileiro, cresce o risco de o ex-presidente ser condenado e preso. Mas, se (ou quando) isso ocorrer, ele cumprirá a pena ou vai fugir do país?

Jair enfrentaria a cana como fez o presidente Lula ou buscaria asilo político em algum país com governo de extrema direita e sem acordo de extradição com o Brasil vendendo a narrativa de estar sendo "perseguido"? Ou mesmo rumaria para a Itália, apelando para uma dupla cidadania?

Na esteira do escândalo das joias, os deputados federais Jandira Feghalli (PC do B-RJ) e Rogério Correia (PT-MG) pediram às autoridades e à CPMI dos Atos Golpistas que apreendam os passaportes do ex-presidente e da diretora do PL Mulher e ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

Vale lembrar que durante operação de busca e apreensão na casa do ex-presidente por conta de outro escândalo, o de hackeamento dos registros de vacina contra a covid-19, no último 3 de maio, o ministro Alexandre de Moraes já havia autorizado a apreensão do seu passaporte. A PF, no entanto, considerou que não seria preciso naquele momento.

No mesmo dia, o tenente-coronel Mauro Cid foi preso. Três meses depois, outro membro da família, seu pai, o general Mauro Lourena Cid, apareceu como coadjuvante no esquema das joias, cotando e vendendo patrimônio público em Miami produzindo dólares para Jair.

Lula ficou preso por 580 dias na carceragem da PF em Curitiba, condenado em meio à operação Lava Jato. Posteriormente, foi solto e o Supremo Tribunal Federal anulou a decisão, declarando que o então juiz Sergio Moro - flagrado combinando o futuro do petista com a acusação pelo Telegram no que ficou conhecido como Vaza Jato - foi parcial no julgamento.

Pouco antes de se entregar à PF para iniciar o cumprimento de sua pena, em 7 de abril de 2018, Lula divulgou um vídeo em que disse que poderia ter fugido do país, mas não quis.

"Não quis fugir porque quem é inocente não corre, enfrenta os problemas. E quero provar minha inocência. Se tem político que não tem honra e não se defende, eu tenho muita honra e quero me defender", afirmou ao deixar a sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Durante a investigação, o julgamento e os recursos apresentados pela defesa, muitos foram os que na imprensa e na política alertaram para o risco de Lula fugir, apesar de a hipótese não fazer sentido dado o histórico do ex-presidente. Por isonomia, a mesma questão deveria estar sendo levantada agora para Bolsonaro. Com a diferença de que ele sim demonstrou que, diante da necessidade, pega um avião e sai de fininho.

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A fuga de Jair Bolsonaro para a Flórida antes da posse de Lula marcou o fim do seu mandato com duas doses de covardia: uma por não reconhecer a vitória do sucessor, outra por temer ser responsabilizado pelos atos de violência que seus seguidores viriam a cometer no 8 de janeiro. E que ele tão diligentemente planejou e incitou.

A fuga do ex-presidente, decolando com um avião da Força Aérea Brasileira rumo a Orlando, soou como a banana dada ao país pelo personagem sem caráter Marco Aurélio, vivido pelo ator Reginaldo Faria, na icônica novela Vale Tudo, transmitida pela Rede Globo entre 1988 e 1989. O empresário também fugiu do país em um avião no fim da novela.

E se o personagem fictício que parece real era acusado de montar esquemas para desviar recursos em benefício próprio, o mesmo pode ser dito do personagem real que parece fictício, e as denúncias de desvios de recursos públicos e de lavagem de dinheiro.

"Vale a pena ser honesto no Brasil?" era a grande pergunta da novela. A reflexão sobre a atualidade dessa questão deve ser feita à luz das tantas denúncias de que o presidente usou e vendeu a coisa pública para o seu interesse privado. E que, ao final, pode novamente dar uma banana para o país.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL