Leonardo Sakamoto

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Opinião

Dos irmãos Brazão ao clã Bolsonaro, a política carioca é uma imobiliária

Os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, presos após acusação de serem os mandantes da execução da vereadora Marielle Franco, comandam um império imobiliário no Rio de Janeiro, com 162 imóveis e postos de gasolina em nome de seu clã, aponta investigação do UOL, publicada nesta segunda (1º).

A Polícia Federal analisa a origem dos recursos deste patrimônio, composto por casas, apartamentos, terrenos, prédios comerciais, que chega a R$ 120 milhões. O conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio e o deputado federal são suspeitos de relação com as milícias que operam na zona oeste da capital fluminense - que têm nos ganhos com construções ilegais uma de suas principais fontes de renda.

Diante disso, não deixa de ser pitoresco que, há quase dois anos, o UOL tenha revelado ao Brasil que o clã Bolsonaro negociou 107 imóveis desde a década de 1990, dos quais, pelo menos, 51 foram comprados total ou parcialmente com uso de dinheiro vivo. De acordo com a investigação, isso suscitou investigações do Ministério Público sobre a origem dos recursos.

O ex-presidente e sua família são suspeitos por desvio de salários de servidores públicos de seus gabinetes para o próprio bolso, prática conhecida como "rachadinha". O Ministério Público do Rio já apontou participação de ex-cunhados e de uma das ex-esposas de Jair no esquema de desvios de salários do seu gabinete e no de seus filhos.

O uso de grandes quantias de dinheiro vivo na compra de imóveis é uma forma usada para lavar recursos de procedência ilegal. Normalmente, a prática é adotada por traficantes, milicianos, golpistas e organizações criminosas a fim de evitar que órgãos do governo, como o Coaf, identifiquem operações estranhas e as investiguem.

Tanto a investigação de Juliana Dal Piva e Thiago Herdy, sobre o patrimônio dos Bolsonaro, quanto a de Graciliano Rocha e Pedro Canário, a respeito das propriedades dos Brazão, nos dá um vislumbre de como funcionam as lavanderias envolvendo o poder público. Isso não é monopólio do Rio de Janeiro, mas floresce muito bem em um locais em que a especulação imobiliária dita a vida e a morte, em que os escassos terrenos urbanos valem ouro e no qual a natureza da criminalidade passa pelo controle de terras e de territórios.

À reportagem, o advogado de Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio, afirmou que a evolução patrimonial de seu clientes não está relacionada às acusações contra ele no Supremo Tribunal Federal.

Mas, é bem pelo contrário: uma origem ilícita desse patrimônio pode ter relação direta com o assassinato da vereadora e do motorista Anderson Gomes em março de 2018, caso a Policia Federal confirme que ela ou alguém do seu grupo político eram vistos como dor de cabeça para expansão dos negócios da família.

Investigações como essas prestam um importante serviço à sociedade ao revelar o patrimônio de clãs políticos que podem ter crescido de forma ilegal. Seria salutar, principalmente em anos eleitorais, que houvesse um esforço conjunto da sociedade para trazer à tona imobiliárias e lavanderias que pertencem a políticos e suas famílias. Afinal, como diz o Evangelho de João, capítulo 8, versículo 32: "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará".

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Ser rico não é crime, crime é a forma pela qual alguns se tornaram ricos.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL