Leonardo Sakamoto

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Opinião

Tarcísio não libera catracas em greve para evitar rejeição à privatização

Sindicatos propuseram trocar a greve do transporte sobre trilhos, desta terça (3), pela não cobrança de tarifa, o que não foi aceito pelo governo - decisão chancelada pela Justiça. Se as catracas das estações do Metrô e da CPTM tivessem amanhecido liberadas, o protesto contra a privatização dessas empresas e da Sabesp teria a simpatia maciça dos usuários do serviços públicos - o que seria um pesadelo para o Palácio dos Bandeirantes.

Em coletiva nesta manhã, o governador Tarcísio de Freitas afirmou que "liberar a catraca é colocar o cidadão em risco, é perder o controle do cidadão na plataforma". E vaticinou: "A liberação de catraca pode ocasionar acidentes, não é desejável".

A presidente do Sindicato dos Metroviários e Metroviárias, Camila Lisboa, rebate o governador, lembrando que São Paulo teve passe livre na eleição do ano passado e não houve tumultos. E que o trabalhadores teriam garantido a segurança.

"Nós conhecemos o sistema e sabemos operá-lo. E temos compromisso com a prestação de serviço público. Os usuários também são trabalhadores, pessoas educadas. O povo de São Paulo não é vândalo", disse à coluna.

Para além de um questão de perda de receita com as tarifas, está em jogo a simpatia da população com as pautas do movimento grevista.

A prática de liberar catracas em protestos de trabalhadores do transporte público não é uma jabuticaba brasileira, mas ocorre em outros países, na Europa, nos Estados Unidos. É considerada uma forma eficiente de pressão exatamente porque atinge o caixa do empregador e gera simpatia no povo.

Em uma greve convencional, não há receita, mas não há custo de operação, e, neste tipo de paralisação, há custo. Essa é uma das razões pelas quais a Justiça costuma votar contra isso.

Na coletiva, Tarcísio criticou que a greve tem "motivação política". A declaração também faz parte da disputa pelos corações e mentes dos paulistas em relação à paralisação e sua pauta. Afinal, toda greve é um instrumento político para reivindicações.

Ao reclamar do motivo da greve, ou seja, um protesto contra o processo de privatização do Metrô, CPTM e Sabesp, o governador destacou que "já tivemos dissídio coletivo, foi negociado o reajuste, concessões, beneficio" e mesmo assim, houve a paralisação das atividades.

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Ou seja, quis reforçar um conceito limitado de greve, que deve servir apenas para reivindicar aumento.

Camila Lisboa, presidente do sindicato, discorda. "Além de uma greve trabalhista, porque está em jogo o nosso emprego, ela também diz respeito ao interesse comum da população porque estamos falando de transporte público, água e saneamento básico", diz Camila Lisboa.

"O artigo 9º da Constituição Federal diz que os trabalhadores podem fazer greve nos momentos que eles avaliarem correto. Este é o caso", conclui.

Talvez o que o governador quisesse dizer era "motivação partidária" ou "motivação eleitoral", tanto que trouxe a questão da relação entre partidos e sindicatos e a eleição municipal do ano que vem à sua fala.

Pois palavras e silêncios têm peso. Tarifas e catracas livres também.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL