Israel joga bomba no Sul de Gaza depois de nos mandar para cá, diz moradora
Sob a justificativa de que o Sul da Faixa de Gaza seria mais seguro para a população diante de sua invasão terrestre, o Exército israelense ordenou que mais de um milhão de palestinos evacuassem suas casas ao Norte. Mas, chegando no Sul, famílias encontram as mesmas bombas com as quais se deparavam antes.
"Um edifício onde residentes dormiam, exatamente ao lado de onde estamos, foi atingido às 3h da manhã", afirma Haneen Wishah, em conversa com a coluna nesta segunda (30). Além de ter perdido um primo, ela conta que uma prima de seu marido, o bebê dela de nove semanas, o esposo, duas cunhadas, além de outras pessoas, morreram em outro bombardeio que destruiu três edifícios residenciais também no Sul.
Ela confirma que recebeu a informação dada pelo Exército de Israel de que deixar o Norte seria uma medida em nome de sua própria segurança. Mas reclama que, lá chegando, bombas e morte encontraram sua família mesmo assim.
Haneen é gerente de projetos da Al Awda, organização que administra hospitais e serviços de emergência para feridos em Gaza, e ficou o máximo que conseguiu trabalhando no norte do território. Uma de suas atribuições vinha sendo tentar garantir o funcionamento dos hospitais, que estão ficando sem combustível para os geradores de energia.
Desde que Israel bloqueou a entrada de eletricidade, água, alimentos, remédios e produtos hospitalares como resposta aos ataques terroristas do Hamas, a vida foi estrangulada no território.
Os poucos caminhões com ajuda humanitária que atravessaram a passagem de Rafah (até agora, foram 117, sendo que seria necessário quase quatro vezes isso), na fronteira com o Egito, são insuficientes. E Tel Aviv não permite a entrada de combustível, o que tem levado os hospitais a uma pane seca.
Haneen vivia no centro da cidade de Gaza e, logo depois do início dos bombardeios, quando os moradores foram alertados pelo Exército israelense a deixarem o local, evacuou a sua casa com seus filhos.
"Coletei as memórias preciosas que eu tinha na casa e com meus cinco filhos fugimos para outro lugar. Fiz isso porque tenho medo por eles", afirma. "Se eu estivesse sozinha, nem pensaria em sair, mas os vi chorando e gritando." Agora, foi para o Sul.
Gaza agora é "campo de batalha"
Enquanto as tropas se preparavam para invadir, panfletos em árabe foram lançados sobre Gaza, avisando que a parte Norte havia se tornado "campo de batalha". Neste momento, tanques israelenses transitam no território.
O Exército também publicou um comunicado em vídeo em inglês, defendendo que o Hamas usa escolas e hospitais como fachada para suas bases - o que indica que a invasão não poupará essas instalações.
"Atenção, cidadãos de Gaza, ouçam com cuidado. Esta é um apelo militar urgente das Forças de Defesa de Israel. Para sua imediata segurança, nós pedimos a todos os residentes do Norte de Gaza e da cidade de Gaza para que temporariamente se realoquem ao Sul imediatamente", disse o comunicado.
O pedido reforça ordem para que a metade norte do território seja desocupada. Uma vez que o Sul não comporta a chegada de uma onda com centenas de milhares de refugiados, famílias tiveram que ser alocadas de forma precária em escolas, casas de conhecidos ou barracas em campos de refugiados.
A falta de água potável, comida e saneamento básico somada à superlotação torna a situação insustentável, tanto que há um fluxo contrário, de pessoas voltando para suas casas ao Norte a fim de tentar a sorte.
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Quero receberPelo menos, 8.306 palestinos foram mortos em Gaza em ataques israelenses desde 7 de outubro segundo o serviço de saúde do território. Mais de 1.400 pessoas morreram em Israel. Uma taxa de quase 6 mortos em Gaza para cada morto em Israel.
Diante dos bombardeios no Sul, como na região de Khan Younis, deixando mortos e feridos, inclusive entre funcionários das Nações Unidas, o ultimato do Exército israelense para evacuação vem sendo mais um motivo de críticas. Como me disse Haneen, hoje não há lugar seguro em Gaza.