Leonardo Sakamoto

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Opinião

Com brasileiros presos em Gaza, embaixador de Israel insufla a guerra aqui

Representantes de Israel estão se aproveitando que o governo Lula precisa libertar 34 brasileiros que estão na Faixa de Gaza e, por isso, depende de decisão do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, para ultrapassar o bom senso da diplomacia. Como dificilmente o Brasil vai expulsar um diplomata em meio à espera de uma autorização de saída de seus nacionais para o Egito, aproveitam para fomentar conflitos internos por aqui.

Dessa vez, o embaixador de Israel, Daniel Zonshine, se reuniu com o ex-presidente Jair Bolsonaro, antigo aliado de Netanyahu, e com parlamentares da oposição, em uma reunião na Câmara dos Deputados, sob a justificativa de apresentar um "filme sobre as atrocidades do Hamas".

Mais do que uma sessão sangrenta de cinema, o evento teve o objetivo de gerar constrangimento para o governo Lula - que, desde o início do conflito entre Tel Aviv e Hamas vem se engajando em uma solução de cessar-fogo imediato e instalação de corredores humanitários. E isso não interessa ao governo de extrema-direita de Netanyahu neste momento.

O encontro foi usado para ampliar os ataques de apoiadores do ex-presidente contra o atual governo por conta da posição brasileira, crítica ao Hamas, mas também aos crimes de guerra israelenses. Ou seja, o evento com o embaixador foi usado pelo bolsonarismo para sua guerra ideológica interna, criando uma mentira: a de Jair como negociador da liberdade dos brasileiros.

E, como apurei, isso irritou não apenas o Palácio do Planalto, mas o próprio Itamaraty, que vinha tentando acalmar o restante do governo diante da demora de Israel de liberar os brasileiros. O embaixador Zonshine culpa o Hamas por isso, mas ninguém na gestão de Lula acredita.

Não é proibido um embaixador estrangeiro se reunir com a oposição de um país em que está. Porém, no atual momento delicado, conviria a um diplomata ter tato, ainda mais quando Israel segue dificultando a saída de brasileiros. Para muitos, a reunião mostra que o tato foi para o espaço.

Não custa lembrar que a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, como lembra o doutor em Direito Internacional e advogado em direitos humanos, Jefferson Nascimento, obriga que os representantes de país estrangeiros tratem de questões de Estado com o Ministério das Relações Exteriores.

Preocupada com as imagens que chegam de Gaza, com corpos de crianças palestinas, que estão aumentando os protestos contra o conflito em todo o mundo, a diplomacia israelense vem fazendo essas sessões de exibição de vídeos com o ataque terrorista do Hamas, que deixou 1400 mortos. Até agora, os bombardeios e o cerco de Israel mataram 10.569 em Gaza.

No dia 1º de novembro, sessão semelhante foi organizada pelo Consulado de Israel, em São Paulo, convidando jornalistas para assistir. O auxiliar de defesa da Embaixada de Israel no Brasil, Semion Gamburg, reproduziu o vídeo com cenas chocantes.

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Muitos no governo e nas redes defendem a expulsão do embaixador ou que, ao menos, ele seja convocado para dar explicações. O assessor especial de Lula, Celso Amorim, já fala de "genocídio" em Gaza em reuniões internacionais. Para além de ter que tomar cuidado pelos brasileiros na Palestina, o Brasil quer se manter como interlocutor e mediador do conflito.

O fato é que, com a demora injustificada em liberar brasileiros por parte de Israel, mortes de nossos patriotas cairão na conta de Tel Aviv e vai forçar Brasília a uma resposta dura.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL