Leonardo Sakamoto

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Reportagem

Hospital em Gaza é refúgio de feridos, não paiol do Hamas, diz funcionária

"Por que combatentes do Hamas manteriam armas aqui sabendo que os militares israelenses estavam há semanas indicando que fariam operações contra o hospital? Isso simplesmente não faz sentido."

A declaração sobre o Al-Shifa, o maior hospital de Gaza, foi enviada à coluna por uma palestina que atua na área de saúde e pediu para ter sua identidade preservada, pois o Exército de Israel invadiu o complexo nesta quarta (15).

Ela rebate que o hospital seja uma fachada para o Hamas e diz que pessoas estão morrendo por causa dessa "mentira".

Tel Aviv diz que o complexo esconde um quartel-general do grupo responsável, pelo ataque terrorista que deixou 1200 mortos em seu território no dia 7 de outubro e mantém mais de 240 reféns.

Após a invasão ao hospital, militares mostraram imagens de armamentos, munições, granadas e coletes à prova de balas, que, segundo eles, teriam sido encontrados em salas com "recursos tecnológicos". As alegações, contudo, não podem ser comprovadas de forma independente.

"As imagens que aparecem nas TVs de vocês fazem parte de uma história inventada para justificar o crime humanitário que está sendo realizado não apenas contra o Al-Shifa, mas também Gaza", afirmou a funcionária do sistema de saúde à coluna. "Al-Shifa é refúgio para feridos, não depósito de armas do Hamas."

Israel está sob pressão internacional para trazer provas concretas de que o Al-Shifa é realmente o epicentro do terrorismo que o seu exército diz e não um dos últimos centros de atendimento para feridos e doentes operando no Norte de Gaza.

Governos como o da Espanha e do Qatar, entre outros, criticaram a administração do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu pela ação, que desrespeitaria a Convenção de Genebra. Até o aliado, Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, demonstrou preocupação quanto à ação contra o Al-Shifa, entendendo o tamanho do problema que isso representa.

Martin Griffiths, diretor do Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários, disse que estava "horrorizado" com a operação militar. Tedros Adhanom, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde disse que os relatos da incursão eram "profundamente preocupantes".

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Netanyahu respondeu, nas redes sociais, que "não há lugar em Gaza que nós não consigamos alcançar".

O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou, nesta quarta (15), uma resolução pedindo uma pausa humanitária prolongada em Gaza e liberação dos reféns. Dos seus membros permanentes, EUA, Rússia e Reino Unido se abstiveram, China e França votaram a favor. Ignorando a decisão, as forças israelenses continuam a incursão no Al-Shifa.

Hospitais em Gaza também estão passando por pane seca

A coluna tem entrevistado médicos e diretores de hospitais de Gaza na últimas semanas. Para além do cerco e invasão, capítulo mais recente dessa história, eles foram unânimes em apontar o bloqueio de entrada de combustíveis como a sua maior dor de cabeça.

Por exemplo, o diretor do hospital Al-Awda, Ahmad Muhanna, relatou na semana passada que os geradores de energia haviam parado após esgotarem os 12 mil litros de combustíveis de sua reserva estratégica.

"Estamos operando com luzes recarregáveis e pilhas", disse à coluna. Com isso, os hospitais não têm como fazer funcionar respiradores, incubadores para bebês, máquinas de hemodiálise e de raios-X.

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Além disso, Muhanna contou que bombas haviam destruído ambulâncias e ferido funcionários do Al-Awda, um dos últimos refúgios ainda abertos para palestinos diante dos bombardeios de Israel no norte da Faixa de Gaza. A unidade, que atende os moradores do campo de refugiados de Jabalia, que registrou quase 200 mortos e centenas de feridos em recentes ataques, teve danos em sua estrutura com os bombardeios.

Em Gaza, o número de mortos com a operação israelense passou de 11,3 mil, segundo o serviço de saúde local controlado pelo Hamas.

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