Morte em show de Taylor Swift reforça alerta de blocos ao Carnaval de 2024
"Se uma pessoa morreu em um show, como vai ser no Carnaval?" A pergunta é de Thais Haliski, uma das fundadoras da Comissão Feminina do Carnaval de Rua de São Paulo, que congrega representantes de 60 blocos, sobre a necessidade do poder público de garantir água gratuitamente na folia de 2024 a fim de evitar tragédias como a do show de Taylor Swift no Rio.
Nesta sexta (17), Ana Clara Benevides, 23, passou mal e morreu devido ao calor durante apresentação da cantora. A sensação térmica era de 60ºC no Estádio Nilton Santos. Mais de mil pessoas desmaiaram pelo mesmo motivo. A cidade, como boa parte do país, vive uma onda de calor, fruto de um forte El Niño bombado pela mudança climática.
A produtora do show, Tickets For Fun (T4F), havia proibido a entrada de garrafas de água apesar da previsão do tempo. Circulam nas redes áudios de fãs da cantora desesperados no show pela falta de água. Acusam a empresa de dificultar o acesso para lucrar com a venda do produto. A TF4 lamentou a morte, edisse que não comercializa bebidas, mas não respondeu às críticas. Após a morte, o ministro da Justiça Flávio Dino mandou liberar entrada de água.
"A Comissão Feminina do Carnaval de Rua de São Paulo alerta para a necessidade de distribuição de água no período de cortejos. Diante da previsão de calor intenso é de responsabilidade do poder público preservar a população", afirmou nota pública do grupo divulgada na tarde deste sábado (18).
"Com a notícia da morte de uma pessoa em um show privado com público bem mais reduzido, surge o alerta que já vem sendo colocado há muitos anos pelos coletivos, associações e entidades organizadoras do carnaval."
Haliski afirmou à coluna que a demanda nova vem sendo feita à Prefeitura de São Paulo pelo grupo desde 2019. "Tendo El Niño ou não, o carnaval é época de temperaturas elevadas com multidões embaixo do sol. O fornecimento gratuito de água precisa entrar no planejamento do poder público", diz.
No contexto do Carnaval, com alto consumo de bebidas alcoólicas, a garantia de água se torna ainda mais importante. "Muitos vêm com R$ 10, R$ 15 para curtir o dia inteiro. Afinal, os blocos são na rua e de graça. Ou seja, não têm dinheiro para ficarem se hidratando. Se a Prefeitura entregar água aos blocos, eles conseguem cuidar da logística para fazer chegar às mãos das pessoas", explica.
A comissão realizou reunião com a Secretaria Municipal de Subprefeituras, em outubro, quando pediram novamente a distribuição. Afirmam ser necessário que o poder público feche uma parceria com a Sabesp ou com outras empresas que patrocinam o carnaval para não colocar em risco a vida de foliões diante do que chamaram de "situação climática crítica".
A coluna entrou em contato com a secretaria e assim que uma posição for enviada o texto será atualizado.
Vale lembrar que fabricantes de bebidas alcoólicas têm sido os principais patrocinadores de carnavais de rua, não apenas na capital paulista, mas em outras grandes cidades. Alguns contam com exclusividade na venda de bebidas nos blocos e enfrentariam a concorrência da água gratuita para matar a sede dos foliões.
Até agora, o poder público tem se isentado da responsabilidade de reafirmar a importância da vida diante de qualquer necessidade de negócios. A triste experiência do show de Taylor Swift pode ajudar a mudar isso.