Na Argentina, governo derrotado chama para conversa; no Brasil, tenta golpe
Após convite de Alberto Fernández, Javier Milei encontrou-se com ele, na manhã desta terça (21), na residência oficial do presidente argentino para discutirem a transição do atual governo para o eleito, que toma posse em 10 de dezembro. Não concordam em nada, já se atacaram mutuamente e, pelo semblante da foto acima, continuam não se gostando. Mesmo assim, sentaram-se à mesa como adultos — coisa que Bolsonaro não quis fazer no Brasil por estar planejando um golpe.
Enquanto o candidato peronista, o ministro da Economia Sergio Massa, reconheceu a sua derrota antes mesmo do fim da apuração, uma vez que as pesquisas de boca de urna apontavam larga vitória do adversário, por aqui Jair levou dois dias para admitir que perdeu. E fez isso em um discurso torto e sem convidar Lula, o vencedor, para uma conversa.
Massa indicou que poderia deixar o cargo, mas, após críticas do adversário, confirmou que permanece até o dia 10. Ninguém nega a tensão entre derrotados e vencedores neste momento, ainda mais em uma Argentina extremamente polarizada, mas democracia é isso mesmo.
Enquanto autorizava o início do processo de transição de poder (o que, aliás, não precisava de seu aval para acontecer), Bolsonaro agia na surdina para não entregá-lo. Nos bastidores, tentou convencer as Forças Armadas a embarcarem em sua aventura golpista e impedirem a posse de Lula. Delação do faz-tudo de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, aponta que o comandante da Marinha topou rasgar a Constituição, os do Exército e da Aeronáutica, não.
E incitou seus seguidores em um golpismo que cantava em porta de quartel e orava para pneu de caminhão, que culminou em veículos incendiados em Brasília no dia 12 de dezembro, diplomação de Lula no TSE, na bomba colocada em um caminhão de combustível para tentar explodir o aeroporto de Brasília na véspera de Natal e nos atos golpistas que invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro.
Por fim, Bolsonaro fugiu do Brasil no dia 30 de dezembro, não apenas para não entregar a faixa presidencial a Lula, mas, principalmente, para ter um álibi para a tentativa de golpe que ocorreria dias depois.
Um dos pilares da democracia é a transição pacífica de poder. A Argentina peronista entendeu isso, mas o Brasil bolsonarista, não.