Leonardo Sakamoto

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Opinião

Netanyahu bombardeia Gaza, Teerã, Beirute e Damasco para fugir da prisão

O governo Benjamin Netanyahu realizou ataque aéreo em Teerã, capital do Irã, matando Ismail Haniyeh, um dos líderes do Hamas, nesta quarta (31). É o terceiro ataque de Israel em capitais do Oriente Médio em pouco mais de três meses.

Tel Aviv já havia bombardeado Beirute, no Líbano, na terça (30), a fim de matar Muhsin Shukr, um dos chefes do grupo Hezbollah. E, em abril, atingiu o consulado do Irã em Damasco, na Síria, matando 16 pessoas, entre elas o comandante iraniano Mohammad Zahedi. Isso sem contar as 39,5 mil pessoas mortas em Gaza na vingança pelo ataque terrorista do Hamas.

Agora, imagine a reação dos Estados Unidos e da Otan se o Irã realizasse ataques em alvos em três capitais nesse pouco espaço de tempo ou praticasse um genocídio em um território sobre o qual exercesse domínio completo. O que nos lembra que Israel só faz o que faz porque conta com respaldo.

Se o ataque de abril já havia deixado parte do mundo de cabelo em pé diante da possiblidade de uma guerra regional, os dois bombardeios de ontem e hoje jogaram a temperatura lá no alto.

O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, disse que o país está pronto para combate após o aiatolá Ali Khamenei prometer revidar. O governo Netanyahu tem dito que não quer guerra, mas que suas ações servem para garantir a segurança de seu território e que o Irã faz ataques por procuração, ou seja, envolvendo outros países e grupos. A questão é que ações diretas de países a capitais de outros países são recados diretos que geram consequências imprevisíveis.

O Tribunal Penal Internacional analisa o pedido do procurador-chefe Karim Khan, de prisão de Netanyahu, de Gallant, e de três líderes do grupo Hamas. O que não significa lá muita coisa neste momento, pois Israel vem rejeitando as ordens da Corte Internacional de Justiça, que havia mandado interromper os bombardeios sobre Gaza.

Sob a justificativa de atingir o Hamas pela morte de 1139 mortos, em 7 de outubro do ano passado, as Forças de Defesa de Israel vêm passando o trator sobre os palestinos. Corpos carbonizados, membros dilacerados, gente queimada urrando de dor esperando ou torcendo para morrer fazem parte do cenário, junto com doenças, como cólera, falta de água, de comida, de energia elétrica e de hospitais.

No início da vingança, Israel havia ordenado que milhões de palestinos se dirigissem ao Sul do território que estariam seguros, agora ataca exatamente esse local.

No afã de se manter longe da prisão, que é o local para onde ele pode ir ao deixar o governo devido às denúncias de corrupção, os ataques à Suprema Corte e sua incompetência em prever os ataques do Hamas, Netanyahu continua produzindo cenas de horror não se importando com a opinião pública internacional. Sabe que a guerra mantém seu apoio junto a grupos ultraconservadores de sua coalisão que o sustentam no poder.

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Milhares de israelenses, principalmente famílias dos reféns levados pelo Hamas, protestam contra ele por estender o conflito e não conseguir traz seus entes queridos de volta. São reprimidos com violência na "maior democracia do Oriente Médio".

Os Estados Unidos vêm tentando por panos quentes, pedindo para que o Irã seja comedido em sua resposta do último ataque. Até porque se uma guerra regional for deflagrada, o governo Joe Biden terá que sair em defesa de seu aliado o que pode gerar um rebosteio sem tamanho. Mas tudo é hipocrisia se os EUA não reverem o suporte a Netanyahu, o açougueiro de Gaza.

O governo do Irã, o Hezbollah, o Hamas, os Houthis, do Iêmen, veem Israel como inimigo a ser destruído. E o conflito é útil para muitos deles, pois fortalece sua posição e sua narrativa. A questão é que o conflito também é útil para o governo Netanyahu, pois fortalece sua posição e sua narrativa. A quem não interessa o conflito? Ao povo do Irã, do Líbano, da Síria, do Iêmen, de Israel e, principalmente, de Gaza.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL