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Marco Antonio Villa

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro e o Brasil invertebrado

Isolado, Bolsonaro conversa com Guedes na antessala do G20 - Reprodução
Isolado, Bolsonaro conversa com Guedes na antessala do G20 Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

05/11/2021 09h29

O que fazer com Jair Bolsonaro até 1º de janeiro de 2023? Depois da reunião do G20, em Roma, o maior vexame da história diplomática brasileira, e a ausência na COP26, em Glasgow, o que mais podemos esperar do presidente da República?

Na longa permanência em Roma, Bolsonaro não teve nenhuma reunião reservada com qualquer dos líderes lá presentes. Ficou isolado como se estivesse chegando de Chernobyl, pouco após a explosão do reator. Sem agenda e ignorado pelas participantes na reunião, transformou-se em um mandrião radioativo. Notabilizou sua passagem romana pela agressão covarde a três jornalistas realizada pela sua guarda pessoal, capangas a serviço do miliciano que ocupa o Palácio do Planalto.

Resolveu, então, estabelecer uma agenda pessoal e ficou passeando pela Itália. Para piorar visitou o cemitério dos pracinhas da Força Expedicionária Brasileira (FEB), em Pistoia, acompanhado do líder da Liga, partido neofascista, Matteo Salvini. Seria como visitar Auschwitz na companhia do líder do partido neonazista Alternativa para a Alemanha.

A pandemia acabou favorecendo Bolsonaro. O vexame da visita à Itália poderia ser multiplicado no caso da permanência das reuniões com os líderes mundiais que acabaram canceladas ou realizadas virtualmente. Certamente teríamos inúmeros momentos em que se manifestaria a idiotia presidencial.

Internamente, estamos assistindo ao maior desmonte da estrutura do Estado desde a Proclamação da República. O caos se transformou na marca do governo Bolsonaro. Não há nenhum projeto com uma perspectiva de totalidade, de relação orgânica entre as diferentes áreas da administração federal. Tudo é feito de improviso.

Se Bolsonaro plantou decadência, o Brasil poderá colher turbulência social. A economia deve crescer, em 2021, abaixo do esperado (não custa recordar a recessão de 4,1% de 2020), e em 2022, segundo os analistas, teremos uma retração de -0,5%, em um cenário mundial de crescimento econômico positivo.

Em meio ao desastre, Bolsonaro resolveu condecorar o ministro da Economia pelos seus êxitos. Agora Paulo Guedes é comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico. Exato, Guedes merece: em três anos de ministério, em dois deles produziu recessão, e vai entregar em 2023 um país pior do que encontrou em 2019. Sem esquecer a desvalorização do real e a disparada da inflação, como não tínhamos nos últimos 20 anos.

Caminhamos para um processo eleitoral que tem tudo para ser o pior desde 1989. E mais: marcado pela violência do extremismo bolsonarista. Não custa imaginar o que fará Jair Bolsonaro quando na noite de 2 de outubro de 2022 tomar conhecimento que estará fora do segundo turno presidencial. Serão três meses —até a posse do novo presidente em 1º de janeiro de 2023— marcados pela anarquia administrativa e política.

Mas o desafio imediato é assistir um país da importância do Brasil suportar mais 14 meses de Jair Bolsonaro como se fosse algo inevitável, sem qualquer poder de reação, com uma sociedade anestesiada, invertebrada. Resta esperar que "o inesperado faça uma surpresa", como canta Johnny Alf. Ou concordar com Kate Lyra: "O brasileiro é tão bonzinho".