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Mauricio Stycer

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Investigação sobre offshore de Guedes ganha espaço discreto em jornais

Reportagem de consórcio internacional de jornalistas apontou que o ministro Paulo Guedes possui uma offshore em paraíso fiscal - Wilson Dias/Agência Brasil
Reportagem de consórcio internacional de jornalistas apontou que o ministro Paulo Guedes possui uma offshore em paraíso fiscal Imagem: Wilson Dias/Agência Brasil

Colunista do UOL

04/10/2021 18h41Atualizada em 05/10/2021 00h16

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Divulgada no início da tarde de domingo (3), a reportagem sobre a empresa milionária que o ministro da Economia do Brasil, Paulo Guedes, mantém nas Ilhas Virgens Britânicas é a pontinha mais visível de uma enorme operação jornalística.

Chamada de "Pandora Papers", e centrada nas chamadas offshores, foi realizada a partir da análise de milhões de documentos relacionados a milhares de empresas abertas em paraísos fiscais por 300 políticos, empresários e autoridades de 90 países.

No Brasil, além do ministro Paulo Guedes e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a investigação identificou grandes empresários, como os sócios da Prevent Senior, da MRV Engenharia e da Riachuelo, além de figuras ligadas ao governo Bolsonaro, como o dono da Havan.

A "Pandora Papers" é um projeto coordenado pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês). Esta iniciativa reuniu 600 jornalistas, espalhados por 117 países e territórios. Integraram o projeto no Brasil profissionais da revista Piauí, dos sites Poder360 e Metrópoles e da Agência Pública.

O ICIJ foi fundado em 1997 pelo jornalista americano Charles 'Chuck' Lewis, então um produtor de TV especializado em reportagens investigativas. Foi lançado como um projeto do Centro pela Integridade Pública e, após dezenas de investigações e prêmios, se tornou uma organização independente em 2017.

Um dado importante a observar: a organização é formada por jornalistas, não por empresas de mídia. Mas, ao se envolverem em investigações como a "Pandora Papers", os profissionais precisam ter o apoio oficial das empresas para as quais trabalham. É este compromisso que garante tempo e segurança aos jornalistas envolvidos. As empresas não são obrigadas a publicar todo o resultado da apuração. Cada veículo é livre para publicar o que desejar — pode até não publicar nada.

Os três principais jornais do país, Folha, O Globo e Estadão, bem como o UOL, já se envolveram no passado em diferentes investigações do ICIJ, como "SwissLeaks" (2016) e "Panamá Papers" (2017). Desta vez, porém, nenhum profissional destes veículos acompanhou a apuração da "Pandora Papers". Originalmente chamado de "Projeto Aladim", vinha sendo investigado há cerca de um ano.

Os jornalistas de Piauí, Poder 360, Metrópoles e Agência Pública não aceitaram o pedido de um profissional do UOL para participar da investigação.

Os detalhes divulgados pelos quatro veículos, incluindo a réplica de documentos, permitiram que o caso tivesse enorme repercussão no Brasil e fosse reproduzido por outros jornais, sites e emissoras de televisão.

Em especial, pela sua importância, a revelação sobre Guedes e Campos Neto, teve muito destaque ainda no domingo, no UOL e na Folha (ambos os veículos seguiram dando informações na segunda-feira), assim como no R7, site da Record, e no "Fantástico", da TV Globo.

Já os jornais O Globo e Estadão, por opção própria, trataram do assunto com muito mais discrição. O caso não aparece na capa do jornal carioca desta segunda-feira e o nome de Guedes não é mencionado na pequena chamada dada pelo jornal paulista. O Valor Econômico, principal jornal de economia do país, do Grupo Globo, também não mencionou o assunto em sua primeira página. O Jornal Nacional, igualmente, não tratou dos desdobramentos do caso esta noite.

A operação "Pandora Papers" teve grande destaque em jornais que atuaram como parceiros do ICIJ, como o Washington Post, nos EUA, o The Guardian, na Inglaterra, o El Pais, na Espanha, e o Clarin, na Argentina.