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Luiz Fernando Carvalho desconstrói o 7 de Setembro na série Independências
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A TV Cultura exibe na próxima quarta-feira, 7 de Setembro, o primeiro episódio da minissérie "Independências", dirigida por Luiz Fernando Carvalho. O título no plural já dá uma ideia da provocação proposta pelo programa. Muito mais do que reconstituir o Dia da Independência, a proposta é mostrar o impacto da vinda da Família Real portuguesa ao Brasil, a dizimação de culturas indígenas e a exploração impiedosa de negros escravizados.
Carvalho é um dos mais criativos, ousados e provocadores diretores da televisão brasileira. Está longe da TV desde fevereiro de 2017, após a exibição da minissérie "Dois Irmãos". Seus trabalhos em 30 anos de Globo incluem também "Os Maias", "Hoje é Dia de Maria", "A Pedra do Reino", "Subúrbia", "Alexandre e Outros Heróis", entre outros. O diretor também deixou a sua marca em novelas como "O Rei do Gado", "Renascer", "Meu Pedacinho de Chão" e "Velho Chico".
Em 16 episódios, exibidos às quartas, às 22h, "Independências" traz um elenco de peso, incluindo Antonio Fagundes (Dom João VI), Daniel de Oliveira (D. Pedro I), Isabél Zuaa (Peregrina), Ilana Kaplan (Carlota Joaquina), Gabriel Leone (D. Miguel), Louisa Sexton (Leopoldina), Andre Frateschi (Chalaça) e Celso Frateschi (José Bonifácio).
Após assistir ao primeiro episódio, nesta terça-feira (30), conversei brevemente com Carvalho sobre a minissérie. Abaixo, um resumo da entrevista.
Alargamento dos sentidos
Toda televisão é uma concessão pública. E toda a minha trajetória tem uma relação muito forte com essa responsabilidade de entrelaçar entretenimento com educação. E educação passa, também, por um exercício, um alargamento dos sentidos. Há uma margem maior para fazer isso numa TV pública.
Originalidade
Acredito que essa minissérie seja a primeira teledramaturgia histórica não colonial. O ponto de vista dela, de saída, é totalmente anticolonialista. Você não vê isso nas reconstituições históricas.
Isso é televisão
Meu trabalho sempre buscou transpassar uma classificação. Isso é televisão? Isso é teatro? Isso é circo? Isso é ópera? É cinema? Às vezes, no intuito de elogiar, as pessoas chamavam de cinema. Sempre discordei. Isso é televisão. É, sim, um objeto híbrido, que dialoga com todas as formas de arte, inclusive videoarte, artes plásticas dos anos 1960. E é importante que dialogue, para que se torne mais sedutora.
Atrair os jovens
Imagina um jovem da periferia. Assim como na minissérie "Capitu" (2008), para citar um exemplo, há um atrativo. A aula do professor é meio chata. Aqui não é nada disso. Gostei desse D. Pedro, dessa Carlota, as cores, os figurinos. Os escravizados não estão vestidos de sacos de batata. Há uma desconstrução total desses clichês.
Diáspora africana
Penso na nossa dificuldade, de homens burgueses, brancos, de compreender as origens do país, indígena, da cultura da diáspora africana. Você vê o debate dos presidenciáveis. Como isso está afastado da gente! Percebi, então, que a maneira de dialogar com esse país do século 19 seria partir da epistemologia da cultura negra. Então, o que em alguns momentos pode parecer experimental, é porque a gente não dá conta daquelas luzes, cores, formas, da filosofia banto. Naquela época, 80% da população no Brasil era negra e falava essa língua.
"Não estou entendendo nada"
O desconhecido, o que perturba, o que te desconcerta, o "não estou entendendo nada", é o nosso desconhecimento em relação a um universo e uma cultura banto. Temos que diminuir a nossa distância em relação a essa cultura. Temos que nos acostumar a ouvir essa língua, a saber o que é "kalunga". Não é uma papelaria (são descendentes de africanos escravizados fugidos e libertos das minas de ouro do Brasil).
7 de Setembro
Esse primeiro capítulo é um abre-alas. O que achei importante é que não se fizesse um projeto sobre o 7 de Setembro, que é algo para mim duvidoso, não sei se temos que celebrar alguma coisa, se nós já temos uma nação. Temos que trabalhar muito para construir essa nação. Duvido dessa ideia de celebração. Então sugeri que pegássemos a aurora do século 19, que vem desde a chegada da família real para o Brasil e a partir daí fizéssemos uma reflexão sobre o que eles trouxeram no baú. A Cultura disse que estava de acordo com esta historiografia.
Volta à TV
Não é uma volta à TV. Nunca entrei nem nunca saí. Produzi muito para a televisão. Investi muito sangue na televisão, nessa possibilidade de fazer outras televisões, não apenas uma. Me dediquei. Não deixa de ser uma continuação. Você enxerga "Capitu", "Hoje É Dia de Maria". É uma grande homenagem aos intérpretes. Sem clichês.
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