Raquel Landim

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Opinião

Alta de 2,5% do PIB deve ser o 'teto' do crescimento do ano

O Produto Interno Bruto avançou 0,8% no primeiro trimestre do ano em relação ao quatro trimestre em linha com as estimativas mais otimistas do mercado e o governo está em festa. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já criticou tanto o Fundo Monetário Internacional (FMI), agora comemora as previsões da entidade de que o Brasil pode voltar a ser a oitava economia mundial.

É papel do governo bater bumbo para estimular a economia, mas, a portas fechadas, espera-se que esteja sendo feita a devida reflexão. No acumulado de 4 trimestres, a economia brasileira cresceu 2,5% — um percentual importante, mas confirmando uma desaceleração de quatro trimestres consecutivos desse indicador que já chegou a bater em 3,7%.

Nesse início do ano, o consumo das famílias avançou 1,5% de janeiro a março, puxando o desempenho do comércio e dos serviços. As famílias quitaram dívidas e gastaram mais graças ao pagamento antecipado de precatórios. Em fevereiro, o governo pagou R$ 30 bilhões em precatórios que seriam devidos apenas em julho. O nome disso é antecipação de consumo. A conta vem depois.

A agricultura também surpreendeu quem esperava um resultado fraco por conta da quebra na safra de soja: alta de 11,3% no trimestre. O setor, no entanto, ainda não abandonou o pessimismo para o ano. Está sujeito a intempéries climáticas como a que infelizmente atingiu o Rio Grande do Sul. O impacto da tragédia gaúcha no PIB total do país é pequeno, mas só vai aparecer no segundo trimestre.

Outro indicador sempre importante é o investimento, resultado dos gastos em bens de capital e em construção civil. Afinal é ele que mede a capacidade do país de avançar sem pressionar a inflação. O investimento subiu 4,1% no trimestre, mas não foi suficiente para recuperar a retração acumulada desde 2002. A taxa de investimento em relação ao PIB teve nova queda e está em 16,9%, menor patamar desde 2020.

Com consumo em alta, mercado de trabalho pujante, taxa de investimento em queda, e sem sinais de controle mais rígido das contas públicas, é pouquíssimo provável que o Banco Central reveja o rumo. Os juros devem se manter acima de 10% até o final do ano, desacelerando a economia para controlar a inflação.

O PIB foi alto, mas a qualidade desse crescimento não é boa. O consumo em alta é fruto de impulso fiscal e o BC tem razão de ter mais cautela.
Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter

Dá para sustentar um crescimento de 2,5% até o final do ano? Com juros acima de 10% e a tragédia no Rio Grande do Sul é grande a possibilidade de estarmos no teto do crescimento.
Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados

A não ser, claro, que a equipe econômica perca a batalha para a ala política, e o governo decida recorrer a ainda mais gastos para manter o ritmo de crescimento, tornando mais difícil o controle da inflação. Daí a manchete do resultado do PIB pode até ser positiva, mas vai doer no bolso daqueles que mais precisam — os pobres.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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