Lula coloca em dúvida política cambial e mercado teme Dilma 3
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já havia colocado em dúvida o compromisso do governo com o arcabouço fiscal e a independência do Banco Central para definir a taxa de juros. Hoje decidiu questionar a política cambial brasileira.
Lula afirmou em entrevista que a alta do dólar "preocupa" e que existe um "jogo especulativo" contra o real. Ele disse ainda que o governo "precisa agir" e que "convocou uma reunião sobre o assunto" com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para amanhã.
Resultado: o dólar encostou no R$ 5,70.
Ontem à noite, Haddad havia atribuído a desvalorização do real acima do patamar das demais moedas dos países emergentes a "muitos ruídos" e à "dificuldade do governo de comunicar seus resultados econômicos". Quando questionado se ia intervir no câmbio, Haddad se aferrou à cartilha: "Isso é assunto do Banco Central".
Intervir no câmbio agora é contraproducente. O diagnóstico é comum entre a maior parte dos economistas. Só diz o contrário quem está fazendo jogo político. O BC pode fazer vendas pontuais de moeda, mas vai queimar reservas e não vai mudar a tendência, porque existem fatos objetivos para a alta do dólar.
E um deles é a instabilidade provocada pelas declarações do próprio presidente. Lula está semeando o risco de que seu governo pode se transformar em "Dilma 3" - uma administração intervencionista, cuja receita levou ao Brasil a sua pior recessão recente.
O presidente tem decisões políticas difíceis para tomar em breve: contingenciamento de despesas que podem ficar entre R$ 15 bilhões a R$ 20 bilhões em ano eleitoral, a escolha do novo presidente do Banco Central, e a própria definição se o arcabouço fiscal vai se sustentar ou não. Qual caminho ele vai tomar? Suas declarações recentes deixam as piores dúvidas, a despeito do esforço de Haddad e da ministra do Planejamento, Simone Tebet.
Além disso, cresce a percepção entre o empresariado de que Haddad está perdendo a guerra palaciana para o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Costa e Silveira se tornaram símbolos de uma política mais intervencionista e gastadora e da influência dos lobbies que podem se beneficiar com isso.
Soma-se ainda nesse cenário: a troca da presidência na Petrobras para retomar projetos que deram errado, a percepção de maior leniência com os corruptos após as anistias concedidas pelo ministro Dias Toffoli, um Supremo Tribunal Federal mais ativo a favor da Receita contra o contribuinte. Tudo junto faz um caldo que afasta o investidor. Até junho, a saída de recursos da bolsa foi recorde.
Nesse clima, quem vai querer investir no Brasil?
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