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Reinaldo Azevedo

Olavo 1: Ele manda Bolsonaro ser homem, ameaça depô-lo e quer prisão no STF

Olavo de Carvalho tentando deixar claro a seu pupilo que um presidente deve se comportar de modo viril, másculo, homem macho com "h" - Reprodução/Youtube
Olavo de Carvalho tentando deixar claro a seu pupilo que um presidente deve se comportar de modo viril, másculo, homem macho com "h" Imagem: Reprodução/Youtube

Colunista do UOL

08/06/2020 08h49

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Olavo de Carvalho, prosélito da extrema direita da Internet, perdeu o juízo só na aparência. Nunca a tirada da personagem Polônio, da peça "Hamlet", de Shakespeare, que já se tornou um clichê, foi tão aplicável a um caso: não é loucura, embora pareça, mas método. Ao vituperar contra Jair Bolsonaro, contra os militares, contra um empresário que já lhe ofereceu ajuda, contra alguns dos seus seguidores, passa a impressão de que está queimando navios.

Não! O diabo é diabo porque é velho, não porque seja necessariamente sábio. E Olavo é esperto. E como! Ou não viveria muito bem com seus cursos na Internet. Fato: é uma das vozes mais influentes junto à família Bolsonaro e reúne fanáticos em penca dispostos a repetir seus bordões, a amar o que ele ama e a odiar o que ele odeia — embora, e ele mesmo admite, não tenham lido, com exceções, os seus livros.

Parece que uma tempestade judicial se abateu sobre ele. Já que mora nos EUA, as pessoas decidiram processá-lo por lá mesmo. Segundo afirma, a causa dos processos são palavras ditas ou escritas por seus acólitos, não por ele. Se for assim, pode ficar tranquilo. Nenhuma pena lhe advirá lá ou aqui. Mas será mesmo? Olavo decidiu pedir ajuda. A seu modo. Como verão.

E seu modo de gritar socorro é atacando — inclusive Bolsonaro. Nenhum líder esquerdista pediu ao presidente até hoje, nem nos protestos de rua, que agasalhasse objetos em um dos extremos do aparelho digestivo. Olavo faz isso. Achando pouco, ameaça derrubá-lo.

Passou esse recado em cinco vídeos em menos de 24 horas. Destaco os trechos, entre aspas mesmo, de sua fala, que seguem em vermelho. Comento em azul. Neste primeiro bloco, estão os ataques dirigidos ao presidente. Vocês verão que o prosélito da extrema direita de Internet pede que Bolsonaro o estatize. Como assim? É isso mesmo! Vamos ver.

Por que é esperteza? Porque ele já está com um olho no ponto futuro. No bloco dos ataques às Forças Armadas, vocês perceberão que não aconteceu aquilo com o que ele certamente contava: uma quartelada. Sente o cheiro de carne queimada e ameaça cair fora. A menos que...

Então é preciso criar uma receita que some em doses calculadas suposta independência; ataque ao establishment; dicção de vítima, perseguida, mas altiva e triunfante, e, bem..., é preciso também ser pidão. Afinal, ele precisa abastecer a despensa.

BOLSONARO E OS COVARDES
"E agora uma mensagem aqui ao presidente da República. O que é que esse homem fez contra os seus inimigos até hoje? Nada! Nunca! De vez em quando, dá uma resmungadinha. Briga com algum cara... Já viu presidente da República discutir com jornalista, meus Deus do Céu!? É isso o que ele faz. [Contra] Os verdadeiros inimigos, não faz nada. Chega o embaixador da China, cospe na sua cara, e você não faz nada. Outro comete crimes diante de você, e você, que tem, pela lei, a autoridade e o dever de dar voz de prisão em flagrante quando vê o crime, você não faz nada! Porque você é aconselhado por generais covardes. Covardes ou traidores ou vendidos, eu não sei".
Observem que, para Olavo de Carvalho, Jair Bolsonaro é um homem muito contido. E a fonte dessa contenção sãos generais que o cercam: vendidos ou covardes.

BOLSONARO, SEJA HOMEM, PORRA!
"Olhe aqui, ô presidente da República! Eu lhe aviso: se você não dá voz de prisão quando você vê um crime em flagrante, você está prevaricando. Quer levar um processo de prevaricação? Quer que eu mova contra você um processo por prevaricação? Se não quer, então mexa-se! Seja homem, porra! Porque você criou fama de valente, mas você não é valente."

"Outra coisa: todos os conselhos que eu dei ao Bolsonaro, desde o começo do governo, ele fez sempre ao contrário. Por exemplo: eu sempre disse: não se briga com instituições, briga-se com indivíduos. Não diga: 'O Globo'. Diga o seu Fulano de Tal. É muito simples. Você [Bolsonaro] não estudou estratégia militar, não? Se você briga com uma instituição, você está unificando o inimigo em vez de dividi-lo, porra! Precisa ser muito inteligente para perceber isso?"
A ignorância jurídica de Olavo é assustadora. Ele achar que pode processar o presidente por prevaricação é de uma estupidez que chega a ser assombrosa.

ERREI, SIM!
"O pessoal acha que eu dito a política para o Bolsonaro. Conversei com o Bolsonaro quatro vezes. A única coisa que ele me perguntou foi a respeito de pessoas que ele queria nomear para ministros, que é uma coisa muito errada perguntar para mim porque eu não tenho qualificação para isso porque eu estou há 15 anos fora do Brasil. Quando eu indiquei o Vélez Rodríguez, eu indiquei o Vélez Rodríguez que eu conhecia vinte anos atrás, sem saber que ela já tava meio gagá. Eu não tenho qualificação suficiente para isso, mas, já que ele pediu a indicação, eu dei. Como ele tinha sugerido meu nome para ministro da Cultura, por uma questão de retribuição, eu sugeri os nomes que ele queria. E sugeri errado! Não me culpo muito por isso porque um homem que está fora do Brasil há 15 anos não tem a obrigação de saber como está a cabeça de ninguém."
Vejam a sem-cerimônia com que admite que indicou, sim, ministros para Bolsonaro, mas atribui apenas ao outro a imprudência. Querendo se descolar dos desastres -- afinal, se o presidente cair, ele precisa continuar a dar "aulas" na Internet --, já tenta se descolar do desastre.

BOLSONARO PRENDENDO MINISTROS DO SUPREMO
"Ele [Bolsonaro] vê o pessoal do STF cometer um crime contra a segurança nacional na cara dele, e ele não dá voz de prisão. Ou seja: isso é prevaricação. O que ele quer? Quer ser derrubado por um processo movido pela esquerda ou por um processo movido pela direita? O que ele quer? Pare de dar ouvidos a isentões, covardes e traidores. Se quer o meu conselho, eu lhe dou, só que agora é tarde, presidente."
Na cabeça de Olavo, vai saber quem lhe disse tal sandice, um presidente da República pode dar voz de prisão a um ministro do Supremo. Isso explica parte da ruindade do governo Bolsonaro. Olavo é sabidamente influente junto ao chefe do Executivo. Daí derivam chiliques como "Acabou, porra!" Acabou quê?

Não só o megalômano acredita que pode processar o presidente por prevaricação como assegura a seus pobres seguidores que o chefe do Executivo pode prender ele mesmo um membro da corte suprema do país.

E não! Ele não está brincando. Meros reprodutores que são de suas teses, o que ele próprio admite, seus seguidores saem por aí a repetir a besteira.

Dá no que dá.