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Reinaldo Azevedo

Estupidez do governo Bolsonaro cria frente ampla de ex-ministros da Saúde

Em reunião presencial e virtual de general Pazuello com governadores, João Doria, de São Paulo, evidenciou a irresponsabilidade e o boicote do governo federal - Governo de São Paulo/Divulgação
Em reunião presencial e virtual de general Pazuello com governadores, João Doria, de São Paulo, evidenciou a irresponsabilidade e o boicote do governo federal Imagem: Governo de São Paulo/Divulgação

Colunista do UOL

09/12/2020 06h47

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A estupidez e a incompetência do governo Bolsonaro, especialmente grave no enfrentamento da pandemia, produziu ao menos uma frente ampla: a de ex-ministros da Saúde. Nada menos de 11 ex-ocupantes da pasta assinam um texto-manifesto, publicado na Folha, com o título: "Vacina para todos já!". Petistas, tucanos, peemedebistas e dois nomes que já integraram o atual governo afirmam:
"O país necessita de um plano sólido, abrangente, que contemple todas as vacinas que consigam registro na Anvisa, sem qualquer tipo de discriminação. E que permita, ao longo do ano de 2021, garantir a vacinação para toda a população brasileira, prevenindo o surgimento de doença grave e suas consequências, reduzindo substancialmente a atual pressão sobre nosso sistema de saúde e garantindo o pleno retorno às atividades econômicas e sociais."

Assinam o texto Alexandre Padilha, Arthur Chioro, Barjas Negri, Humberto Costa, José Agenor Álvares da Silva, José Gomes Temporão, José Serra, José Saraiva Felipe, Luiz Henrique Mandetta, Marcelo Castro e Nelson Teich.

O espetáculo grotesco a que se assistiu nesta terça, na reunião entre Eduardo Pazuello, o general que se finge ministro da Saúde, e os governadores certamente não encontra paralelo no mundo. Viu-se mais um capítulo de um pesadelo que assombra o país há dez meses, matou quase 180 mil brasileiros e contaminou quase 7 milhões.

O negacionismo de Bolsonaro e de Pazuello, este boneco de mamulengo uniformizado — o que humilha e degrada as Forças Armadas, o Exército em particular — assume, no momento, a forma da pura e simples sabotagem. O governo federal faz questão de ignorar a Coronavac, a vacina desenvolvida numa parceria entre o Instituto Butantan e a empresa chinesa Sinovac, e ameaça o país, e São Paulo em particular, com a burocracia.

Não restou a João Doria, governador de São Paulo, outro caminho que não a explicitação do boicote. Disse a Pazuello:
"Para a vacina Covax Facility, o governo federal lançou um investimento de R$ 2,5 bilhões, dos quais o seu ministério já destinou e pagou R$ 830 milhões. As vacinas do consórcio, o senhor inclusive enumerou e nomeou todas elas, não foram aprovadas pela Anvisa. Pagou R$ 830 milhões para o consórcio Covax, sem a vacina. O seu ministério pagou à AstraZeneca R$ 1,281 bilhão, sem a vacina. E a Coronavac, que é a vacina do Butantan, que já temos aqui parcela considerável, e que o senhor, na última reunião, com 24 governadores, anunciou que compraria 46 milhões... Infelizmente, o presidente da República desautorizou o senhor, foi deselegante com o senhor e, em menos de 24 horas, impediu que a sua palavra fosse mantida perante os governadores. Seu ministério vai comprar a vacina Coronavac, sendo aprovada pela Anvisa? Sim ou não?"

E se ouviu, então, a voz da truculência subserviente. Afirmou o general:
"Já respondi isso. Já respondi a todos os governadores quanto à vacina do Butantan, que não é do Estado de São Paulo, tá governador?, é do Butantan. Não sei por que o sr. fala tanto como se fosse do Estado. É do Butantan. O Butantan é o nosso fabricante de vacina, do nosso país. É respeitado por isso. O Butantan, quando concluir seu trabalho e tiver vacina registrada, avaliaremos a demanda. Se houver demanda, e houver preço, vamos comprar. Volto a colocar para o senhor que o MOU [memorando de entendimento], ele não é vinculante. Volto a colocar pro senhor que o registro é obrigatório. E, havendo demanda, havendo preço, todas as vacinas, todas as posições serão alvos de nossa compra."

Trata-se de truculência disfarçada de objetividade. Imaginem Pazuello comandando a logística do Exército num país em guerra. Se bem que estamos no meio de uma. E sua eficiência se conta em corpos.

Há quem diga por aí que Doria exagerou na reação à desídia do governo diante da Coronavac. Discordo. Fez muito bem. É preciso chegar ao "é da coisa". É evidente que o comportamento de Bolsonaro e Pazuello, além de irresponsável e potencialmente homicida, tem motivação política. Chegou a hora de indagar quantos outros cadáveres eles reivindicam em sua sanha obscurantista.