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Reinaldo Azevedo

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

OS ERROS 1: De tonto, Bolsonaro tem só o jeitão. E o DEM virou Centrão

Rodrigo Maia e ACM Neto. Acabou a parceria. Deputado deve deixar o DEM. Partido vira seção do Centrão - Metro 1
Rodrigo Maia e ACM Neto. Acabou a parceria. Deputado deve deixar o DEM. Partido vira seção do Centrão Imagem: Metro 1

Colunista do UOL

11/02/2021 06h38

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Jair Bolsonaro pode falar como tonto, comportar-se como tonto, governar como tonto. Mas não é tonto. Por que isso? Vamos ver. E é bom que seus adversários tomem cuidado. Ele não está acertando. Mas os que o enfrentam estão cometendo erros evidentes na largada. Convém corrigir rumos. Já chego lá.

A campanha presidencial de 2022, como é evidente já começou. Sempre fui contra a reeleição. Bati duramente na emenda que a instituiu, em 1997. Previa o óbvio nas circunstâncias brasileiras. O presidente de turno poderia fazer algum esforço para governar nos dois primeiros anos e passaria os dois seguintes mexendo os pauzinhos para tentar a recondução.

Bolsonaro, claro!, foge um pouco ao padrão. Não terá governado nem nos dois primeiros nem nos dois finais, mas cumpre o destino de estar ocupado desde já com a reeleição. Foi uma das razões por que abriu o caixa para eleger Arthur Lira (Progressistas-AL) presidente da Câmara. Com ele vem uma fatia do Centrão, que o presidente tentará alimentar com o dinheiro e os cargos que tiver. Se haverá ou não aliança, vai se ver.

A avaliação do presidente seria considerada muito ruim num país com um sistema marcadamente bipartidário. Por aqui, não. Olhem para o que desenha o futuro, e vocês encontrarão o presidente — que tem, na média das pesquisas, uns 30% de "bom e ótimo" — no segundo turno em 2022.

Há uma boa chance de um terço do eleitorado, talvez um pouco mais, votar na esquerda e centro-esquerda — que, ao que se anuncia, estarão divididas. E sobrará aquele terço que decide: ou pra lá ou pra cá. Note-se que o terço à esquerda, se rachado, poderia abrir espaço para um candidato de centro. Mas haverá apenas um? Também aí não há fragmentação?

Assim, as coisas ficam ainda mais incertas. Eleitores de esquerda e de centro-esquerda votariam em massa num candidato de centro ou de centro-direita contra Bolsonaro? Parece-me plausível. Eleitores de centro e de centro-direita endossariam um nome da esquerda contra o atual presidente? É menos plausível. A rotina a que Bolsonaro submeteu o país é tão pavorosa que tendemos a achar que sim. É bom lembrar, no entanto, quantos o viram como um exemplo de indisciplina a ser seguido na pandemia. Os aspectos mais desastrosos de sua gestão ainda não estão colados à sua biografia.

Bem, aponto o que me parece racional no cenário, mas não faço adivinhações. O presidente tem uma dura jornada pela frente, e o Centrão já começou a evidenciar que o preço pago para a eleição de Lira era, vamos dizer, "ad hoc" — para aquela finalidade. O resto virá a prestações, um pouco por dia. E falta dinheiro. Adiante.

O DESASTRE NO DEM
O deputado Rodrigo Maia (RJ), de saída do DEM, havia conseguido dar à legenda a envergadura de ator de grandes ambições. O partido, que chegou à mingua, cresceu em eleitores, conquistou governos, capitais e viu aumentar o número de prefeitos. Mas isso é até o de menos. Em política, também é preciso ser um interlocutor de respeito para não ser tomado apenas por aquela gente que vende apoios e se vende -- ainda que a paga sejam emendas ou obras, não a tal ladroagem.

Já era. O partido amesquinhou-se na disputa pela presidência da Câmara e virou mais um do Centrão. Diga ACM Neto o que bem entender, e mal disfarçará a condição de equilibrista entre o bolsonarismo e sabe-se-lá-o-quê. A interlocução com João Doria (PSDB) continua, mas ele fala por quantos deputados, por exemplo? A maioria está ávida por lamber o sal que Bolsonaro oferece do outro lado da porteira.

A dimensão de protagonista da cena política que Maia imprimiu ao partido desapareceu junto com a investida do general Luiz Eduardo Ramos e sua planilha. Resta agora tentar dizer que não é bem assim... No fim das contas, Neto, como é conhecido, não sabe se mantém Bolsonaro perto o bastante para que este não lance um candidato que divida a direita na Bahia, facilitando a vida do PT, ou se cola no presidente, correndo o risco de deixar para o seu adversário local o fértil terreno do antibolsonarismo, muito forte na Bahia — mesmo na Salvador que o elegeu duas vezes e onde fez seu sucessor.

Aqui e ali, também há o sonho de, quem sabe?, atrair Luciano Huck, que vai se consolidando como o eterno J. Pinto Fernandes do poema de Drummond — com a diferença de que nem entra na história nem faz história. Em suma, o DEM já era. Será coadjuvante menor em algum arranjo. Com uma nota: não haveria coadjuvação maior do que ser vice de Bolsonaro, não é mesmo, general Mourão?