Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Conspiração III - Presidente e senador combinam como intimidar o Supremo
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
A conversa entre Jorge Kajuru e Jair Bolsonaro vai por caminhos muito perigosos. O que vocês leram acima já caracteriza quebra de decoro do parlamentar e crime de responsabilidade do presidente. A coisa vai piorar bastante. Os dois passam a falar abertamente de ações de intimidação contra o Supremo.
Bolsonaro: Tem que, e acho que você já fez alguma coisa, tem que peticionar o Supremo pra botar em pauta o impeachment [de ministros] também.
Kajuru: E o que é que eu fiz? O senhor não viu o que é que eu fiz, não?
Bolsonaro: É, parece que você fez. Você fez para investigar quem?
Kajuru: O Alexandre de Moraes, uai.
Bolsonaro: Tudo bem!
Kajuru: Eu tenho de começar pelo Alexandre de Moraes porque o [pedido contra] Alexandre de Moraes meu já está lá, engavetado pelo Pacheco. Só falta ele liberar. Correto?
Bolsonaro: Você peticionou o Supremo, né?
Kajuru: Sim, claro! Eu entrei contra o Supremo. Entrei ontem, às 17h40.
Bolsonaro: Parabéns para você!
O senador, então, volta a implorar elogios do presidente. Bolsonaro responde:
"Kajuru, nós estamos afinados, nós dois. É CPI ampla e investigar os ministros do Supremo. Dez pra você. Pode deixar que, tendo oportunidade de conversar com a mídia, cito a minha conversa contigo: CPI ampla do Covid e também que o Supremo, né?...!
O senador, mais uma vez, mendiga um elogio:
"O que é difícil pra mim, presidente, é que eu tenho uma posição como essa, aí todo mundo vem contra mim porque a fala do senhor generaliza todo mundo...
E Bolsonaro responde:
"Kajuru, qualquer pessoa que vier falar comigo, eu vou dizer: 'Olha, o Kajuru foi bem-intencionado. Só que a CPI é restrita. Ele agora vai fazer o possível para fazer a CPI ampla. Da minha parte, sem problema nenhum. Ele já peticionou o Supremo, que deve ser o próprio Barroso...
Kajuru interrompe:
"Deve ser, não, tem que ser. Por causa daquela palavra jurídica 'pretento' (sic). Juridicamente, ele é obrigado a opinar. Ele não pode colocar em nome de outro ministro.
E o presidente corrige o senador:
"É prevento!"
Kajuru, que já atuou como jornalista, é o único brasileiro que teve o português corretamente corrigido por Bolsonaro.
A correção não haveria de ser moral. Uma dupla impossibilidade.