Topo

Reinaldo Azevedo

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Conspiração IV: conversa é criminosa; Bolsonaro aposta que tudo dá em nada

Rodrigo Pacheco: ninguém, nem STF, pode obrigar presidente do Senado a encaminhar denúncia contra ministro do Supremo ou procurador-geral da República - Jefferson Rudy/Agência Senado
Rodrigo Pacheco: ninguém, nem STF, pode obrigar presidente do Senado a encaminhar denúncia contra ministro do Supremo ou procurador-geral da República Imagem: Jefferson Rudy/Agência Senado

Colunista do UOL

12/04/2021 04h50

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Há duas coisas que precisam ficar claras. Assim como o presidente da Câmara pode, monocraticamente, jogar no lixo uma denúncia por crime de responsabilidade contra o chefe do Executivo, o do Senado pode fazer a mesma coisa com denúncias contra ministros do Supremo ou o procurador-geral da República.

A conversa entre o senador Jorge Kajuru e o presidente Jair Bolsonaro, segundo a qual Roberto Barroso estaria obrigado a impor a Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, que dê encaminhamento a denúncias contra ministros do Supremo é uma burrice, uma estultice, uma bobagem sem tamanho.

Isso não quer dizer que a conversa da dupla não seja conspiração aberta contra o Congresso e contra o Supremo.

Parem, coleguinhas, de dizer que Jair Bolsonaro pressionou Kajuru. É o senador quem fica o tempo todo se oferecendo ao presidente da República — o que não quer dizer que este também não tenha cometido crime.

Olhem aqui: parece-me evidente que Bolsonaro sabia que estava sendo gravado. Se não sabia, ficou sabendo antes da divulgação, segundo Kajuru — ou, então, o presidente que o processe. Mas não vai, certo?

Não é possível que não tenham dito a Bolsonaro que o encaminhamento de um pedido de impeachment de ministro do Supremo tem um primeiro ato monocrático do presidente do Senado. E é claro que Rodrigo Pacheco não fará isso. Como é claro que Barroso não ordenará que o faça porque sabe que não tem poder para isso. Assim como ninguém pode obrigar Arthur Lira a mandar adiante uma das 60 e poucas denúncias que há contra o presidente da República.

Essa conversa é uma tentativa desesperada de intimidar o Supremo, pautados ambos pela mais absoluta ignorância. Bolsonaro diz com todas as letras:
"Eu acho que o que vai acontecer. Eles vão (inaudível). Não tem CPI nem tem investigação de ninguém do Supremo"

E Kajuru responde:
"Bota tudo. Ou zero a zero"

E Bolsonaro, num indício de que sabia que estava sendo gravado:
"Eu sou a favor de botar tudo pra frente."

Minhas caras, meus caros. Tanto o senador como o presidente estão cometendo crimes. Ambos se articulam claramente contra dois Poderes da República. O fato de Kajuru ter gravado a conversa, tornando-a pública ele próprio, não altera em nada a agressão à ordem legal.

Assista também vídeo com comentário do Reinaldo sobre o tema aqui.