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Reinaldo Azevedo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Haddad vence em SP, e Tarcísio desponta. Mais: Eleitor é injusto com Doria?

Fernando Haddad, pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, que venceria a disputa se a eleição fosse hoje - Marle Bergamo/Folhapress
Fernando Haddad, pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, que venceria a disputa se a eleição fosse hoje Imagem: Marle Bergamo/Folhapress

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Se a eleição para o governo de São Paulo fosse hoje, o PT chegaria ao cargo pela primeira vez no Estado. É o que aponta pesquisa Genial-Quaest divulgada nesta quinta. O levantamento ouviu 1.640 pessoas entre os dias 11 e 14 de março, com margem de erro de dois pontos para mais ou para menos. O ex-prefeito Fernando Haddad lidera todos os cenários de primeiro turno e bateria todos os adversários no segundo: mas há um sinal amarelo, que recomenda atenção aos "companheiros", como se verá.

Destaque-se, de saída, que, por ora, o índice de votos espontâneos é muito baixo: 76% dizem ainda não ter escolhido ninguém. Haddad e o bolsonarista Tarcísio Freitas aparecem com 2%, seguidos por Márcio França (PSB) e Guilherme Boulos (PSOL), com 1%.

Numa simulação com nove candidatos, o petista marca 24%, seguido por França, com 18%; Tarcísio, com 9%; Boulos, com 7%; Renata Abreu (Podemos) e Rodrigo Garcia (PSDB), com 3%; Vinícius Poit (Novo), com 2%; Felício Ramuth (PSD) e Abraham Weintraub (PMB), com 1%.

Num cenário sem França, Haddad salta para 30%; Tarcísio vai para 11%; Abreu, para 7%, e Garcia, para 5%. Numa outra formação, em que sai também a pré-candidata do Podemos, o petista fica com 31%, e o atual ministro da Infraestrutura, com 12%. Garcia oscila para 6%. Se os candidatos se resumissem a três, Haddad alcançaria 35%, seguido por Tarcísio, com 15%, e Garcia, com 8%. Os quatro cenários ainda têm índices gigantescos de "Branco/Nulo/Não vai votar": 24%, 32%, 33% e 33% respectivamente.

O tucano Garcia disputará a reeleição no cargo, o que sempre é uma vantagem ainda que o candidato se comporte dentro das regras do jogo. Dá-se como certo que deve crescer. O carioca Tarcísio Freitas, e não é a primeira pesquisa a apontar, pode dar algum trabalho. Se França não disputar, o candidato do PT é quem mais ganha votos. Mas o ainda ministro e o tucano também recebem alguns pontos. Cumpre notar que, por enquanto, o homem de Bolsonaro em São Paulo tem o dobro ou triplo daquele apoiado por Doria.

SEGUNDO TURNO
Se Freitas tem um desempenho, vá lá, vistoso no primeiro turno, no segundo, ele acaba se tornando acanhado. Perderia para Haddad por 42% a 27%. Ganharia de Garcia por 29% a 18%, hipótese em que o voto realmente vitorioso seria o "Ninguém/Branco/Nulo", com 43%. O petista venceria ainda o tucano por 41% a 25% e bateria França por 38% a 33%. O pessebista venceria o tucano por 44% a 15%.

REJEIÇÃO
Haddad está, como se vê, bem à frente de seus competidores, especialmente no segundo turno. Mas conta com um inconveniente: a rejeição. Dizem que o conhecem e não votariam nele 53% dos entrevistados. Na sequência, estão França (37%); Boulos (35%); Freitas (27%); Garcia (22%); Weintraub (19%); Abreu (15%); Poit (12%) e Ramuth (9%).

Os políticos gostam de lidar com um troço chamado "potencial de crescimento". Vamos ver. Só 11% não conhecem Haddad, índice que salta para 31% no caso de França, 44% no de Boulos, 56% no de Freitas, 67% no de Garcia, batendo em 86% quando se trata de Ramuth, que nem eu sabia quem era.

Nem todo desconhecimento é igual. O de Weintraub tem menos chance de um dia se converter em voto do que o de Garcia porque este conta com alianças partidárias, estrutura de campanha, visibilidade conferida pelo governo...

ADESÃO
Conhecem e votam ou poderiam votar em Haddad 35%, seguido por França (33%), Boulos (21%), Freitas (17%), Garcia (10%), Abreu (7%), Weintraub (6%), Ramuth (5%) e Poit (3%). Convém ficar atento ao ainda ministro da Infraestrutura.

Nas simulações de primeiro turno, Freitas marca entre 9% e 15%, mas 56% dizem não saber ainda quem ele é. Não duvidem de que vai contar com uma máquina endinheirada em São Paulo. Bolsonaro precisa de um palanque forte no Estado. O seu escolhido demonstrou, convenham, que tem apetite. Quando menos, o presidente vai se esforçar para que ele fique à frente do indicado por Doria. E então chegamos aos padrinhos.

A pesquisa associou o nome de três candidatos a seus respectivos padrinhos para saber em quem os eleitores votariam. O resultado foi este:
- Haddad (apoiado por Lula): 41%
- Freitas (apoiado por Bolsonaro): 27%
- Garcia (apoiado por Doria): 9%

Sem o destaque do apoio, os candidatos marcam, respectivamente, 35%, 15% e 8%. Observem que a menção ao apoio do atual presidente a seu ministro lhe rende 12 pontos percentuais, o que reforça as características de uma seita.

GOVERNO DORIA
A pesquisa também traz a avaliação que os paulistas fazem do governo Doria. É positiva para 17%; regular para 34% e negativa para 46%. Dizem que a gestão é melhor do que esperavam 12%; para 39%, não é nem melhor nem pior, e 48% dizem ser pior. Em todas as faixas etárias, a avaliação negativa está entre 45% e 47%, e a positiva, entre 15% e 19%.

Em todas as faixas de renda, a negativa se situa entre 47 e 49%, e a positiva, entre 15% e 20%, com um dado curioso: os que ganham mais de cinco mínimos são mais rigorosos com o governador do que os que recebem até dois. Dizem que não votariam nele para continuar no cargo atual, caso desistisse da Presidência, nada menos de 70% dos entrevistados.

Acho muito difícil Doria não disputar a Presidência. Ainda nesta quarta, reforçou que está de saída. Tem de deixar o governo no mês que vem para poder se candidatar. O ainda governador terá de se perguntar onde tem errado no diálogo com os paulistas.

BOM GOVERNO
Estou entre aqueles que avaliam que ele faz um bom governo em São Paulo. Não fosse por outra coisa, há duas iniciativas que têm a ver com padrão civilizatório:
- os esforços em favor da vacina -- sem ele, nem dá para calcular o tamanho do dano;
- as câmeras nos uniformes dos policiais, o que fez despencar a letalidade.

O governo de São Paulo tem as contas em dia, é ambientalmente correto e consegue investir. Essa avaliação negativa é absolutamente incompatível com a qualidade da gestão.

Sim, sabemos: o governador enfrentou a poderosa máquina de desqualificação do bolsonarismo. Não custou para que a simpatia no período eleitoral de 2018 se transformasse em ódio, especialmente com o protagonismo de Doria na busca por vacinas e na implementação de medidas restritivas para enfrentar a pandemia.

Não há nada de metafísico nos números. Doria e a esquerda nunca se misturaram. A essa rejeição, juntou-se o ódio bolsonarista, que contamina outros setores não esquerdistas. E isso fez essa maioria relativa bastante hostil ao governo e ao governador.

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NO ESTADO
A pesquisa quis saber em quem os paulistas vão votar na eleição presidencial, testando dois cenários: num deles, com nove candidatos -- o que não vai acontecer --, Lula teria 39% no Estado, contra 25% de Bolsonaro, 8% de Sérgio Moro, 5% de Ciro Gomes e apenas 3% de Doria. Os outros ficam com 1% ou 0%. No segundo cenário, mais reduzido, o petista marcaria 40%, e o atual presidente, 26%. Ciro Gomes ficaria com 8%, Doria com 5%, e Eduardo Leite, com 3%.

No segundo turno, Lula vence Bolsonaro no Estado por 48% a 31% e bate Moro por 45% a 32%. O atual governador marcaria apenas 18% contra o petista, que ficaria com 48%.

Acho, reitero, esses números incompatíveis com o governo que Doria comanda no Estado. Mas eleição expressa a vontade de quem vota; não é necessariamente um ato de justiça.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado, Márcio França é filiado ao PSB, e não ao PSDB. No mesmo texto o nome do ministro Tarcísio Freitas foi grafado incorretamente como Tarcísio Vieira. O texto foi corrigido.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL