Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Na Folha: Onde estava a imprensa quando se fabricou sonegação de R$ 150 bi?
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Leia trechos da minha coluna na Folha:
Essa semana foi pródiga em evidências de que há uma diferença nada singela entre o interesse público e os donos da pauta. Estes já estiveram mais próximos daqueles, mas as divergências no país, no governo Bolsonaro, já me manifestei a respeito no rádio e em vídeo, passaram por um processo de infantilização e voltaram a formas primitivas de exercício da vontade. (...) Assim estamos no "debate econômico" -- ou que nome tenha o que parece, às vezes, uma revolta da creche. Como os infantes aqui servem apenas à ilustração, não se trata de uma representação perfeita dos fatos. Os mais assertivos, nessa área, podem se manifestar na forma de birrentos barbados, pelos já encanecidos muitas vezes, apartados daquela liberdade tardia e sem paixões com que o pastor Títiro, na Primeira "Bucólica", de Virgílio, vê cair, um tanto melancólico, os fios brancos do rosto.
(...)
Onde estávamos quando, em 2020, o governo Bolsonaro e Paulo Guedes promoveram o fim do voto de qualidade no Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais)? Em carta a Fernando Haddad, como noticiou este jornal, Grace Perez-Navarro, diretora do Centro de Política e Administração Tributária da OCDE, afirmou não haver nada semelhante no mundo. Nos outros países do planeta, "as revisões são realizadas por funcionários do governo da administração tributária ou do Ministério das Finanças". (...) Desde que se operou a mudança, sob o nosso quase silêncio cúmplice, o Estado (com as vênias por empregar a palavra) perdeu todas. Deixam-se de arrecadar R$ 60 bilhões por ano, estima-se.
(...)
Onde estávamos quando se introduziram patranhas na Lei Complementar 160, em 2017, e se inventou uma outra espetacular jabuticaba do nativismo sonegador, com a criação do "bis in idem" da não tributação? (...) Demos à luz a sonegação em cascata. O absurdo tem preço: uns R$ 90 bilhões ao ano. (...) Chega-se, iluminando-se apenas dois porões tributários, a uma elisão fiscal de R$ 150 bilhões. Mas aquelas crianças crescidas, apegadas a suas ideias fixas, cobram o corte severo de gastos, o que certamente tornaria ainda pior a vida dos pobres. À diferença de Títiro, ainda não se libertaram das paixões. Como poetas não são, trata-se de interesses. Alguns são até bem mesquinhos, apesar de aparente robustez teórica.
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