Bolsonaro se ajoelha e baba nas mãos de Alexandre e Lula: anistia! Não terá
Jair Bolsonaro foi do "acabou, porra!" para o "eu apelo aos ministros do STF". A primeira frase foi cuspida no dia 28 de maio de 2020 e era uma reação a uma operação da PF contra pessoas ligadas à produção de "fake news". Ocorre que eram suas amigas. Agora, numa entrevista a canal da revista "Oeste", ele ficou perto de se ajoelhar e largar uma baba nas mãos de Moraes: "Eu apelo aos ministros do Supremo Tribunal Federal, eu apelo. Por favor, repensem, vamos partir para uma anistia, vai ser pacificado". Essa genuflexão, digamos, úmida foi precedida do seguinte raciocínio, inexcedível ou na malandragem ou na estupidez -- ou em ambas, de sorte que o malandro instrui o estúpido, e o estúpido empresta ousadia ao malandro. Disse:
"Para nós pacificarmos o Brasil, alguém tem que ceder. Quem tem que ceder? O senhor Alexandre de Moraes. A anistia, em 1979... Eu não era deputado. Foi anistiada gente que matou, que soltou bomba, que sequestrou, que roubou, que sequestrou avião, e 'vamos pacificar, zera o jogo daqui para frente'. Agora, se tivesse uma palavra do Lula ou do Alexandre de Moraes no tocante à anistia, estava tudo resolvido. Não querem pacificar? Pacifica".
Quem disse que Lula, Alexandre e os democratas pretendem a pacificação com golpistas? Ademais, onde está a guerra? É o que digo sempre, camaradas: a tese vigarista da "pacificação" é irmã gêmea de outra mistificação: a polarização. Como esta não existe, não se cuida de falar da outra. A verdadeira "polarização", já escrevi aqui várias vezes, seria outra, não esta de que se fala por aí. Existe uma extrema-direita relevante no país, mas não uma extrema-esquerda. Lula não é polo oposto a Bolsonaro na política, ou seria um extremista de esquerda insano. A clivagem é de outra natureza: há os que aceitam a democracia como valor inegociável e o que não aceitam.
Como é? Ele pede ao ministro relator dos inquéritos do golpe — e de outros que também lidam com golpismos — que se manifeste em favor da anistia? Mas por que ele o faria? Para que a impunidade ajudasse a armar o gatilho para guerras futuras contra a ordem legal? Ele recorre também a Lula — que seria o presidente eleito e não empossado ou o presidente derrubado se a conspirata tivesse dado certo — para que promova o esquecimento?
Diz, bem a seu estilo, que "Alexandre tem de ceder", hipótese em que a Justiça e o juiz se renderiam ao crime. Ceder em quê e para quê? Mais de uma vez, já deixei que claro que o paralelo com a Anistia de 1979 é um despropósito. Para refrescar a memória do "Mito": criminosos do aparelho de repressão também foram anistiados. Torturaram, praticaram terrorismo e mataram. E também foram alcançados por aquela lei. A Anistia de 1979 era um ponto numa trajetória; um ato num conjunto de atos. O regime militar começava a dar sinais de falência, e era preciso devolver o governo aos civis, que também estavam organizados em defesa da democracia.
Ali se entendeu que o "esquecimento" para fins penais era um caminho para sair da ditadura. A anistia que pede Bolsonaro seria um caminho que nos conduziria à ditadura. O relatório da PF está a todos disponível. Vejam lá como os golpistas do entorno de Bolsonaro coordenavam os acampamentos e neles tinham voz de comando. Assim, anistiar os que atacaram as respectivas sedes dos Três Poderes nos colocaria numa transição para o atraso. A anistia de 1979 foi um instrumento importante NÃO DA PACIFICAÇÃO COM A DITADURA, PORQUE ISSO NUNCA ACONTECEU, MAS DA ORGANIZAÇÃO DA LUTA DEMOCRÁTICA.
Tanto é assim que a Emenda Constitucional nº 26, de 1985, que convoca a Assembleia Nacional Constituinte, tem a anistia como pressuposto no Artigo 4º. Aceitava-se fazer uma nova Constituição para deixar para trás a ditadura e criar a institucionalidade do regime democrático. Como Bolsonaro e sua cachorrada foram derrotados, o país não está passando por transição nenhuma.
Em plena democracia, eleições livres se realizaram, e um grupo houve por bem não respeitar o resultado das urnas. Agora que já sabemos de tudo — basta ler o relatório da PF —, constatamos que esse que agora pede perdão babando no dorso da mão de Alexandre e Lula esteve na liderança de uma articulação golpista desde o primeiro dia de governo.
Não haverá anistia. Golpistas vão para o xilindró.
Volta a admitir que pensou, sim, em estado de sítio. Repete uma confissão. E por que recorreria a instrumento tão drástico, só conjecturável em casos de comoção nacional ou de guerra? Ora, porque ele havia perdido a eleição e não se conformava.
Na entrevista, sugere outra motivação: Moraes multou em R$ 22 milhões o PL por ter entrado com pedido de anulação de milhares de urnas (só os votos do Executivo; os do Legislativo não) alegando uma vulnerabilidade que era fraude escancarada. Agora se tem a informação de que os próprios técnicos do partido sabiam tratar-se de uma mentira.
A "pacificação" com fascistas se faz da seguinte maneira: eles do lado de dentro das grades, e a gente do lado de fora.
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