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Ronilso Pacheco

Malafaia e sua cruzada de mentiras e fake news contra Boulos em São Paulo

O pastor Silas Malafaia - Reprodução de vídeo
O pastor Silas Malafaia Imagem: Reprodução de vídeo

28/11/2020 17h43

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Este não é um artigo em defesa de Marcelo Freixo (PSOL) ou Guilherme Boulos (PSOL). Este é um artigo sobre a facilidade e tranquilidade com que Silas Malafaia, pastor, um líder espiritual, mente deliberadamente para conseguir seus objetivos.

Líder da rede de igrejas Vitória em Cristo, Malafaia assumiu uma verdadeira cruzada contra a eleição de Boulos em São Paulo em 2020, da mesma maneira como investiu contra Freixo no Rio em 2016.

Malafaia atua como pessoa-chave na divulgação de fake news, com conceitos que ele nunca é capaz de explicar, e alardeando ameaças, segundo ele, "vindas da esquerda", mas que efetivamente que nunca chegaram.

Enquanto pastor de uma famosa igreja da Assembleia de Deus, Malafaia se cala sobre a morte de cinco pastores assembleianos esse ano por covid-19 em Mato Grosso. Malafaia, ao contrário, hoje faz vídeos contra o atual prefeito de São Gonçalo (RJ), Luiz Nanci (Cidadania), por ter decretado o isolamento social e pedido o cancelamento dos cultos presenciais das igrejas da cidade.

Silas Malafaia nunca explica o que seria o "marxismo cultural", assim como não consegue explicar o que seria exatamente a "ideologia de gênero". Esta é a estratégia a ser usada. Tudo é dito como um mal em si mesmo e sendo feito especificamente para destruir os princípios cristãos, intimidando pelo medo.

Nesta sexta (27), dois dias antes do segundo turno das eleições, Malafaia divulgou em seu Twitter um vídeo que ele considera determinante para que "os evangélicos de São Paulo saibam quem são Boulos e Erundina".

No vídeo, Boulos diz: "O que essas igrejas se tornaram, até em forma de exploração, isso deve ser combatido pela esquerda. Mas o nosso enfrentamento não é só ficar denunciando os evangélicos. Nosso enfrentamento tem que ser fazer o que a gente deixou de fazer pra fazer essa disputa".

O vídeo de Malafaia termina com um "E agora? Você acha que eles são favoráveis aos evangélicos?". Não é difícil reconhecer as artimanhas de uma forte manipulação, que, mais uma vez, Malafaia põe em prática, recorrendo ao medo. O típico líder religioso que finge instruir, mas, na prática, amedronta para obter adesão e concordância. Nada mais antibíblico, eu diria.

Ninguém em sã consciência e com bom senso duvida que haja igrejas, cujos líderes, efetivamente usam o seu cargo e autoridade para exploração da fé e da confiança das pessoas. Boulos é inclusive cuidadoso ao dizer que o papel da esquerda não deve ser apenas a denúncia, mas exigir uma ação prática.

Quem conhece a igreja no Brasil, sabe que, no mínimo, Boulos se refere à rede de solidariedade que muitas igrejas, conservadoras ou progressistas, são capazes de formar, e como isso é determinante, principalmente em muitas periferias. Portanto, o recado aqui é que não adianta criticar os evangélicos sem ser capaz de construir uma rede de solidariedade como a que este grupo é capaz de formar.

Não é pouco conhecida a existência de tantas famílias evangélicas em assentamentos do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) ou do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) em diversos territórios do país. Não é por acaso que muitos assentamentos recebem o nome de "Terra Prometida". Esta é uma alusão direta à expressão bíblica da "terra que Deus prometeu" aos hebreus escravizados no Egito, antes da saída pelo deserto, narrada no livro do Êxodo.

Mas Malafaia não conhece assentamentos. Malafaia conhece muito pouco ou quase nada da realidade de famílias, a grande maioria evangélica e pentecostal, sem condições de ter terra para viver e plantar, sem condições de ter uma casa sem que o aluguel lhes tire tudo o que há em valor que pode ser utilizado para comprar a cesta básica do mês. Enquanto Malafaia resume tudo ao aborto e a sexualidade, essas pessoas querem casa, terra e dignidade de vida.

Malafaia já foi condenado a indenizar o deputado federal Marcelo Freixo em R$ 15 mil, por determinação da 36ª Vara Cível do Rio, devido a quatro vídeos que o pastor postou na internet durante a campanha de 2016, disseminando boatos contra ele. "Marcelo Freixo é a favor de que crianças de seis anos aprendam sexualidade na escola", afirmou Malafaia. E continuou, ao dizer: "Vagabundos, deveriam estar na cadeia".

Isso não fazia o menor sentido, e Malafaia nunca conseguiu provar nada sobre isso a respeito de Freixo. Mais uma vez mentiu, manipulou, enganou.

Qualquer evangélico ou evangélica séria deveria prestar atenção em como alguém que se diz inspirado pela mensagem de Jesus é capaz de destilar tanto ódio e mentiras em discursos. Como em 2016, Malafaia mente, e busca garantir os seus no poder, e sua influência sobre eles.