Sóstenes dobra a aposta na anistia após a grande derrota no 'PL do estupro'
Ler resumo da notícia
A avenida Paulista recebeu mais uma versão das manifestações "pró-anistia", convocada por bolsonaristas e lideradas pelo pastor Silas Malafaia.
Mas apesar de o ato estar centralizado na pessoa do ex-presidente Jair Bolsonaro, o pedido de anistia vai se consolidando como a grande aposta do deputado Sóstenes Cavalcante, do PL do Rio de Janeiro.
O deputado Sóstenes tem dobrado a aposta no projeto da anistia, sendo o protagonista das articulações para a votação do projeto.
Votar o projeto da anistia parece ser um ponto de honra inflexível para Sóstenes. Não custa lembrar que o deputado foi obrigado a aceitar a derrota na proposição do seu projeto PL 1904/2024, conhecido como "PL do estupro".
No projeto, Sóstenes defendia a equiparação do aborto após as 22 semanas de gestação ao crime de homicídio, o que, na prática, defendia o encarceramento das mulheres que abortavam.
Sem apoio nem mesmo no seu próprio nicho —as mulheres evangélicas—, além da forte reação da sociedade civil, Sóstenes foi obrigado a recuar. E o fez, após passar semanas se recusando a rever o projeto, debochando das manifestações contrárias e acreditando piamente que o texto tinha a anuência da maioria da população. Não tinha.
Agora, Sóstenes investe tudo no projeto da anistia. É ele a "grande liderança" que disse "hoje aqui na Câmara, ninguém vai fazer nada", como se fosse a frase mais normal do mundo para ser dita num parlamento.
Num país com tantos desafios e tantas propostas importantes e urgentes de interesse nacional, o deputado Sóstenes Cavalcante achou uma ótima ideia liderar seus colegas de partido, e a oposição, a simplesmente ignorar essas questões centrais para impor o que ele e o seu grupo acham importante.
A derrota iminente de Sóstenes não é apenas a sua derrota. Junto, ela está a levar consigo a derrota do seu padrinho político, o pastor Silas Malafaia.
O estridente pastor tem usado todo o seu poder de influência para fazer crer que a anistia é importante e é um assunto popular. A convocação para o ato na Paulista, voltado diretamente para o público evangélico, traz alguns pastores influentes, e de megaigrejas, defendendo a anistia numa chamada que terminava com a frase "anistia já".
A pesquisa feita pela agência Quaest, no entanto, materializou em dados o que era uma percepção simples de quem observa o dia a dia. A maioria dos brasileiros, 56%, é contrária à anistia.
Tudo era meio óbvio. Mas parece ser típico do mundo bolsonarista esta distopia da realidade, que tenta transformar os seus próprios interesses numa prioridade nacional. Sóstenes está em apuros.
As pessoas estão preocupadas com os preços dos alimentos. Isto é um mal real. As pessoas estão colocando a violência em primeiro lugar de preocupação no Brasil. O país precisa decidir como responder devidamente às tarifas arbitrárias impostas por Donald Trump.
O ato de obstrução é um ato de desespero, de quem não quer ser derrotado de novo. Sem pelo menos um milhão, dois milhões de pessoas nas ruas, não há nada que faça o parlamento crer que a anistia é um clamor nacional, e não uma birra de bolsonaristas.
Bolsonaro pode ainda mostrar alguma força. Mas Sóstenes está à beira de amargar um novo fracasso. Erro de timing e de relevância.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.