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Rubens Valente

Delegados rebatem Bolsonaro e dizem que Valeixo não falou em pedir demissão

Maurício Valeixo, ex-diretor-geral da PF - DENIS FERREIRA NETTO/ESTADÃO CONTEÚDO
Maurício Valeixo, ex-diretor-geral da PF Imagem: DENIS FERREIRA NETTO/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do UOL

25/04/2020 00h01

Três delegados da Polícia Federal ouvidos pela coluna disseram que, ao contrário do que foi afirmado nesta sexta-feira (24) pelo presidente Jair Bolsonaro, o então diretor da Polícia Federal, Maurício Valeixo, não comentou, durante uma videoconferência no órgão, que pretendia deixar o cargo.

"O presidente mentiu. Participei da reunião ontem [quinta-feira, dia 23]. Valeixo não disse isso, nunca! O Valeixo nunca pediu para sair. Tinha projetos conosco. Ele falou sobre o planejamento do ano, as operações do ano", disse um dos delegados.

Em pronunciamento na sexta-feira (24) no Palácio do Planalto, Bolsonaro fez referência a uma videoconferência realizada na quinta-feira entre Valeixo, os diretores da PF em Brasília e todos os superintendentes nos Estados e no Distrito Federal. Bolsonaro argumentou que, na reunião, Valeixo disse que vinha falando em sair da PF.

"E a Polícia Federal? Como publicado por vocês no dia de ontem, mas esqueçam a imprensa. Ontem, numa videoconferência, o senhor Valeixo se dirigiu a todos os seus 27 superintendentes e disse que, desde janeiro, vinha falando ao senhor Sergio Moro que iria deixar a Polícia Federal. Os superintendentes são prova disso", discursou Bolsonaro.

Em outro ponto do pronunciamento, Bolsonaro voltou a dizer: "E mais ainda: não só a imprensa publicou no dia de ontem, de hoje, bem como, entre aspas, o doutor Valeixo, em contato com a Superintendência do Brasil, comunicando que estava cansado, que desde janeiro queria sair. Não foi uma demissão que causasse surpresa a quem quer que fosse".

"Valeixo não falou isso, não, de pedir demissão", disse outro delegado. Os policiais falaram sob a condição de não ter os nomes divulgados. "O que o Valeixo disse na reunião foi o que ele sempre ressaltou, em diversas reuniões, que ele estava dizendo ao ministro Sérgio Moro que ele podia ficar tranquilo quanto a dispor do cargo dele. Para mim, ele se mostrou desanimado a respeito de novos ataques que estava sofrendo. Mas ele não disse 'estou cansado'. Que ele estava cansado foi uma percepção minha", disse o delegado.

Um terceiro policial que participou da reunião também comentou que Valeixo informou que "a coisa estava estranha", em referência a novas pressões vindas do Planalto, mas "ele não disse que iria sair, não".

*Colaborou Flávio Costa