Indígenas localizam garimpo que ameaça grupo de índios isolados na Amazônia
Uma fiscalização feita por indígenas waimiris-atroaris, em Roraima, detectou uma invasão de garimpeiros durante a pandemia do novo coronavírus. Segundo os indígenas, o ataque ao ecossistema da região ameaça um dos grupos isolados que já tiveram sua presença confirmada pela Funai na Amazônia, os pirititis. Imagens de satélite confirmaram a abertura de um ramal dentro da terra dos isolados. Além disso, fotografias tiradas pelos índios, obtidas pela coluna, mostram os barracos dos invasores e a derrubada na mata.
Segundo a ACWA (Associação Comunidade Waimiri-Atroari), a invasão se intensificou nos últimos dois meses, já durante a pandemia. Os pirititis são estimados por indigenistas em mais de cem pessoas e vivem sob a proteção dos waimiris-atroaris, que realizam o monitoramento sem tentar o contato, a fim de preservar o modo de vida dos isolados.
A invasão foi detectada nos limites entre a terra indígena Waimiri-Atroari, homologada pela Presidência da República em 1994, e a terra indígena Pirititi, de 43 mil hectares, que fica ao lado interditada pela Funai em 2012 e com portarias de uso restrito renovadas a cada três anos. Os isolados pirititis vivem em áreas de mata nas duas terras.
Os pirititis são mencionados pelos waimiris-atroari desde os anos 70 e tiveram sua presença confirmada pelos trabalhos da Funai nos anos 2000. Em 2011, a Funai constatou a presença de malocas e roçados dos isolados, o que deu base, junto com outros levantamentos antropológicos, à interdição da área, no ano seguinte. Uma fotografia divulgada em dezembro de 2012 mostra uma maloca e um indígena ao lado. Porém, um grupo de políticos e fazendeiros da região de Rorainópolis (RR) continua questionando a existência desse grupo.
A fiscalização, para a qual os waimiris-atroaris partiram com arcos, flechas e máscaras a fim de diminuir o risco da infecção da Covid-19, foi dividida em duas etapas, uma no final de abril e outra nos dias 12 a 14 de maio. Os indígenas localizaram e expulsaram quatro invasores. De 18 a 20 de maio, os indígenas retornaram ao local e incendiaram todos os acampamentos.
A ação foi desencadeada por 15 indígenas e coordenada pela ACWA, que realiza a fiscalização da terra indígena, localizada entre Amazonas e Roraima.
"Dentro dos limites da terra indígena Pirititi foram constatadas grandes derrubadas e 17 acampamentos em lona e palha, uma pequena casa de madeira serrada já com roçados prontos, plantios de culturas regionais (banana, milho, mandioca, cana-de-açúcar e maxixe)", afirmou a coordenação da FPEWA (Frente de Proteção Etnoambiental Waimiri-Atroari) da Funai em ofício dirigido ao Ibama, à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal.
Além da ação de campo, os waimiris-atroaris pediram auxílio de imagens de satélite para confirmar a invasão. O programa de monitoramento de áreas protegidas do ISA (Instituto Socioambiental) fez "uma minuciosa análise em imagens de alta resolução espacial obtidas pelo satélite Planet, que oferece imagens frequentes de qualquer lugar da Terra, com três metros de resolução espacial, concentrando tal análise no interior da terra indígena Pirititi".
O trabalho confirmou "um ramal sendo aberto no interior da terra indígena". "As imagens de satélite confirmam que a abertura do ramal começou a se intensificar em janeiro de 2020. As imagens de fevereiro e março de 2020 mostram claramente o avanço do desmatamento ao longo do ramal para delimitação e abertura de lotes", informa o relatório do ISA.
"Os desmatamentos ilegais no interior da TI Pirititi aumentam o risco sobre o grupo de índios isolados confirmado pela Funai, bem como o risco de incêndios florestais. Os incêndios ameaçam a segurança alimentar e também trazem riscos à saúde dos grupos isolados que vivem na terra indígena, expondo-os à fumaça, que causa e agrava doenças respiratórias, o que é bastante preocupante em meio à pandemia da Covid-19, além de causar perda de peso nas crianças e morte de idosos", diz o relatório do ISA.
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