Heleno confirma à PF troca no GSI e fragiliza linha da defesa de Bolsonaro
O ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Augusto Heleno, confirmou em ofício à Polícia Federal que foram feitas pelo menos duas substituições no comando da segurança do presidente Jair Bolsonaro em março passado, antes da reunião ministerial de 22 de abril.
A informação enfraquece a linha da defesa presidencial no inquérito que investiga as denúncias do ex-ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) de suposta interferência na PF. Bolsonaro e a AGU (Advocacia Geral da União) haviam dito que, ao se referir na reunião ministerial de 22 de abril sobre trocas no Rio de Janeiro, o presidente falava sobre a segurança de familiares e amigos, não sobre a Superintendência da PF. A segurança presidencial é atribuição do GSI.
Na reunião do dia 22 de abril, Bolsonaro disse aos seus ministros que foi tentada uma substituição no Rio, mas sem sucesso. "Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente e não consegui. Isso acabou", disse na reunião.
A confirmação de Heleno de que duas substituições de chefia ocorreram normalmente, em março, enfraquece o argumento de Bolsonaro.
Em 15 de maio, trocas no GSI foram reveladas numa reportagem da jornalista Andréia Sadi no "Jornal Nacional", da TV Globo. Na ocasião, o ministro Augusto Heleno divulgou uma nota para atacar a TV. Acabou por apresentar uma nova versão sobre a declaração do presidente na reunião de abril. Heleno disse então que Bolsonaro teria apenas citado "como exemplo" a intenção de trocar alguém na sua segurança pessoal, mas "nenhum caso real que houvesse ocorrido".
A PF indagou ao GSI, no bojo do inquérito que tramita no STF, sobre as eventuais trocas na segurança presidencial. Heleno enviou o ofício à delegada da PF Christiane Correa Machado no dia 27 de maio. Ele disse que houve três substituições no comando da segurança de Bolsonaro de 2019 a 2020. A primeira ocorreu dias depois da posse do presidente, em janeiro de 2019.
A segunda foi feita em 30 de março, quando o coronel do Exército André Laranja Sá Corrêa foi "dispensado de exercer a função de Diretor do Departamento de Segurança Presidencial da Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial", conforme uma portaria do GSI.
No mês de março de 2020 houve uma outra substituição, com a saída do coronel Luiz Fernando da Rocha Cerqueira, "dispensado de exercer a função de chefe do escritório de representação na cidade do Rio de Janeiro da Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial do GSI.
O ministro não informou o motivo exato das duas substituições de março passado.
Heleno foi indagado pela PF se houve "óbices ou embaraços a nomes escolhidos para atuação na segurança pessoal" de Jair Bolsonaro "ou de seus familiares nos anos de 2019 e 2020". Heleno respondeu: "Não houve óbices ou embaraços. Por se tratar de militares da ativa, as substituições do Secretário de Segurança e Coordenação Presidencial, do Diretor do Departamento de Segurança Presidencial e do Chefe do Escritório de Representação do Rio de Janeiro foram decorrentes de processos administrativos internos do Exército Brasileiro".
A negativa de que não houve problemas nas substituições também fragiliza a posição de Bolsonaro quando ele diz, na reunião de 22 de abril, que tentou mas não conseguiu substituir alguém.
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