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Direita no Congresso é menos preocupada com meio ambiente, confirma estudo
Uma pesquisa inédita comprovou com números e entrevistas o que é amplamente observado na prática do Congresso Nacional: parlamentares de direita e integrantes da base de apoio a Jair Bolsonaro (sem partido) são menos preocupados com o meio ambiente do que os parlamentares de oposição ao presidente, de esquerda e de centro.
Para chegar a essa conclusão, o levantamento "A agenda do clima no Congresso Nacional: uma pesquisa sobre a percepção dos parlamentares brasileiros", uma iniciativa da RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade) com apoio do ICS (Instituto Clima e Sociedade), criou um IAC (Índice Ambientalista dos Congressistas).
O índice tem uma escala de 0 a 1, sendo 1 o resultado de "muita preocupação com o tema". Os congressistas da base de apoio ao governo pontuaram, em média, 0,46, contra 0,85 da média da oposição a Bolsonaro.
Na separação por ideologia (a posição no espectro ideológico foi declarada pelo próprio parlamentar), o fosso foi ainda maior. Os parlamentares que se disseram de direita pontuaram 0,30, enquanto os parlamentares de esquerda, 0,88. Os parlamentares de centro pontuaram quase o dobro dos da direita, 0,58.
O levantamento concluiu que "os congressistas tendem a concordar que vivemos um contexto de emergência climática e que seus riscos para o Brasil são reais". Porém, "de forma geral, os parlamentares da oposição possuem mais posicionamentos que enfatizam sua preocupação com a mudança climática do que os governistas".
"Na média, a oposição apresenta um valor de 0,85, uma nota significativamente superior à de 0,49 registrada entre os parlamentares de apoio ao governo. Diferenças consideráveis também foram verificadas entre congressistas que se autodeclaram de direita, do centro ou de esquerda."
Sobre a frase "a mídia é muito alarmista" sobre o meio ambiente, 53% dos parlamentares discordaram e 28% concordaram. Dos que concordaram, 49% são da direita e 32% são do centro. Entre os que discordaram dessa afirmação, 84% são de oposição ao governo e 81% são de esquerda.
'Dissonância notável' entre parlamentares e eleitores, diz pesquisa
Outras conclusões do estudo foram, de acordo com a RAPS:
"89% dos congressistas concordam com a necessidade de maior fiscalização do desmatamento, e 29% elencaram essa como a principal prioridade do governo no contexto de emergência climática;
"Maioria afirma não enxergar dilema entre conservação ambiental e crescimento econômico, diz se preocupar com questões ambientais, mas ao mesmo tempo destaca que não vê interesse das Casas legislativas em avançar sobre o tema;
"87% acreditam que Brasil deve investir mais recursos para reduzir o desmatamento, e 69% concordam com um orçamento mais robusto para o Ibama, que sofreu consideráveis contingenciamentos nos últimos anos."
O estudo conclui que, "diante desse cenário, pode-se dizer que o sucesso de medidas legislativas a favor da proteção do meio ambiente depende da origem: as chances de aprovação são maiores se elas forem propostas pelo Executivo".
Uma "dissonância notável", diz a RAPS, foi detectada "na percepção dos parlamentares sobre a preocupação dos eleitores" a respeito do meio ambiente. Para os parlamentares ouvidos, "somente 15% do eleitorado se mostra muito interessado na agenda ambiental". O achado, porém, "destoa de pesquisa recente da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, que mapeou a percepções da população sobre a crise climática em 30 países, mostrando que 80% dos brasileiros entrevistados se declara muito preocupado com o meio
ambiente".
A pesquisa também mostrou que "maioria dos entrevistados (98%) entende como falsa a dicotomia entre crescimento econômico e conservação ambiental e que 49% dos deputados e senadores se dizem muito interessados por essas questões, mas também destaca que os mesmos parlamentares acreditam que apenas 7% de seus colegas de Congresso estão muito interessados".
Índice vai permitir averiguar "sensibilidade" dos congressistas sobre o tema
A metodologia, a formulação e as análises do estudo foram conduzidas pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), por meio do Cepesp (Centro de Política e Economia do Setor Público), que também coordenou a aplicação da pesquisa de opinião com os parlamentares, feita pelo IBPAD (Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados).
De acordo com a pesquisa, o IAC "representa um instrumento a ser acompanhado em futuras edições desse levantamento, permitindo averiguar se conseguiremos um crescimento na sensibilidade dos integrantes do Congresso Nacional para a pauta ambiental e do clima".
Devido às dificuldades de acesso aos parlamentares ocasionadas pela pandemia do novo coronavírus, a pesquisa ouviu 159 congressistas (são 513 na Câmara e 81 no Senado), mas a amostra foi considerada satisfatória por ser "devidamente ponderada para que expressasse a composição do Congresso Nacional com a precisão necessária".
O índice IAC foi aplicado nos parlamentares e assessores em três áreas distintas: "senso de emergência climática", "defesa de investimentos em fiscalização" e a correlação entre os dois campos.
No campo da defesa da fiscalização, os parlamentares de direita (0,63) se aproximam mais dos de esquerda (0,90). No quesito sobre a emergência climática, contudo, a distância é enorme. Os parlamentares de direita pontuaram em média 0,36, contra 0,85 dos de esquerda.
Para produzir o IAC, o levantamento levou em conta itens específicos em questionários. Para o índice sobre a emergência climática, foram usados os seguintes tópicos:
"O respondente acredita que, se nada for feito para reduzir as mudanças climáticas no futuro, o impacto será muito sério para o Brasil.
"O parlamentar discorda de que a mídia é muito alarmista sobre a mudança climática.
"Ele concorda que o Brasil enfrentará sanções econômicas de outros países por causa do aumento no desmatamento.
"O congressista defende que o orçamento do Ibama deve aumentar;
"Ele votaria a favor de projeto que propõe decretar o estado de emergência climática e estabelece a meta de neutralização das emissões de gases de efeito estufa no Brasil até 2050."
A partir dos cinco posicionamentos, a pesquisa usou "técnicas de agregação de variáveis para a criação de um único fator comum e depois escalonamos os valores para que as respostas variassem de 0 a 1. Assim, os parlamentares que apresentaram essas cinco posições receberam o valor 1, enquanto aqueles que não seguiram nenhuma delas receberam o valor 0. No meio dessa escala de 0 a 1 e com valores intermediários, foram alocados os congressistas que assumiram apenas parte dos posicionamentos indicados acima".
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