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Tales Faria

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Bolsonaro expõe e tritura generais com cargos, afagos e humilhações

Chefe da Sucursal de Brasília do UOL

20/05/2021 10h48

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Ninguém na história do Brasil foi tão danoso para a imagem dos militares como o presidente Jair Bolsonaro. O vexame pelo qual o general da ativa Eduardo Pazuello está passando na CPI da Covid não é a única mazela a que o presidente Jair Bolsonaro submeteu seus antigos colegas da caserna.

Aliás, não é a única humilhação pública que o capitão impôs ao general. Tem aquela cena histórica em que mandou desfazer o protocolo de intenções que Pazuello disse ter assinado para compra da Coronavac.

"Mandei cancelar, o presidente sou eu, não abro mão de minha autoridade", disse Bolsonaro.

O subordinado ministro acatou publicamente: "Um manda e outro obedece". Para depois humilhar-se novamente, a fim de proteger o chefe, dizendo na CPI que não recebeu ordem alguma. E seguiu seu calvário na comissão até quase desmaiar numa possível crise vasovagal.

O capitão já demitiu praticamente todo o comando militar: o então ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, e os comandantes do Exército, general Edson Pujol, da Marinha, Almirante Ilques Barboza, e da Aeronáutica, Antônio Carlos Moretti Bermudez. Sem maiores explicações.

A Fernando Azevedo e Silva, já tinha imposto, em julho do ano passado, um vergonhoso passeio de helicóptero por cima de uma manifestação bolsonarista contra a democracia.

Antes, em março, também impôs ao almirante e médico Antônio Barra Torres, a participação, sem usar máscara, em outra manifestação de bolsonaristas. Em depoimento à CPI da Covid, O presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) agora diz que se arrepende do ato.

Quer mais?

Seguindo seu protocolo de desrespeito e humilhação, Bolsonaro também demitiu sem maiores explicações seu antigo porta-voz, o general Otávio do Rego Barros. E ainda, na mesma toada, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-chefe da Secretaria de Governo da Presidência, em meio a fofocas da ala radical do bolsonarismo no governo — comandada por seus filhos.

É a maior diversão do capitão. Demonstrar publicamente sua autoridade sobre os generais. E a submissão dos antigos companheiros de caserna, alguns até de sua geração e que assistiram sua saída para o corpo de reserva do Exército em meio a críticas do comando de que era um "mau militar", como disse Ernesto Geisel.

E tem até o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, com quem Bolsonaro se recusa até a se reunir. O próprio Mourão já admitiu que o presidente não o quer como vice na chapa de 2022.

Mas os generais têm se submetido. Afinal, Bolsonaro distribuiu milhares de cargos comissionados aos militares, o que significa um acréscimo razoável ao soldo de cada um dos premiados. Afagos polpudos que servem como bálsamos contra humilhações.

E assim, entre tapas e beijos, segue o pior momento dos militares após o golpe de 1964.