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Tales Faria

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Bolsonaro arrasta militares para mais um vexame em Brasília

Bolsonaro posa sem máscara em solenidade, com comandantes militares - Getty Images
Bolsonaro posa sem máscara em solenidade, com comandantes militares Imagem: Getty Images

Chefe da Sucursal de Brasília do UOL

09/08/2021 18h24

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Digamos que ocorra mesmo o desfile de canhões na Esplanada dos Ministérios programado para esta terça-feira, 10. Será grande a chance de Bolsonaro ter imposto mais um vexame aos militares durante seu governo.

Na versão oficial, desde 1988 a Marinha realiza esses exercícios no Campo de Instrução de Formosa, a 50 km de Brasília. A nota divulgada pela Marinha sobre o assunto não explica por que desta vez, pela primeira vez, o Exército e a Aeronáutica participarão da chamada Operação Formosa.

Os exercícios ocorrerão no próximo dia 16. Mas resolveu-se que um comboio de blindados e outros instrumentos pesados de guerra passarão justo nesta terça-feira em desfile pela Esplanada dos Ministérios. Darão uma paradinha na Praça dos Três Poderes para entregar convites para o evento ao presidente da República e ao ministro da Defesa.

Será, portanto, em frente ao Congresso, onde, também nesta terça-feira, será votada na Câmara a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que estabeleceria o voto impresso nas eleições do ano que vem. E também em frente à sede do Supremo Tribunal Federal (STF), cujos ministros têm reagido com vigor contra os ataques de Bolsonaro ao sistema eletrônico de votação.

Há quem diga que foi o presidente Jair Bolsonaro quem sugeriu juntar Exército e Aeronáutica a um ato exclusivo da Marinha. E que não é coincidência a demonstração de força em frente ao Congresso e ao STF, no dia da votação da PEC do voto impresso, já que os exercícios só ocorrerão no dia 16.

Sendo assim, Bolsonaro terá envolvido os militares em mais um vexame, porque todas as apostas na Câmara são de que a PEC será derrubada. Bolsonaro terá, então, transformado sua derrota pessoal numa derrota dos militares, cuja demonstração de força terá sido ignorada pelos representantes legítimos do povo, os parlamentares.

Será mais um vexame imposto aos militares, porque Bolsonaro já impôs outros vexames.

Por exemplo, quando tornou os militares sócios do fracasso no combate à pandemia ao nomear um general da ativa para ministro da Saúde.

Também impôs vexame aos generais quando demitiu sumariamente os comandantes das três Forças Armadas e o então ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva. E quando destratou e afastou do Palácio do Planalto outros generais que havia chamado para assessorá-lo na fase inicial do governo.

Os militares tiveram sua imagem pública destruída no período de ditadura. Recuperaram o prestígio nesses anos de regime democrático em que emprestaram apoio e subordinação a sucessivos presidentes civis.

Mas estão voltando a perder o respeito da opinião pública, segundo as pesquisas, no governo do capitão reformado Jair Bolsonaro. Aquele que algum dia foi chamado de "um mau militar" pelo ex-presidente e general Ernesto Geisel, hoje comanda os militares e esgarça a reputação da caserna.