Lira disfarça, mas cumprirá acordo com evangélicos de votar PL do aborto
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) construiu sua carreira como líder partidário em torno da imagem de político que cumpre os acordos acertados nos bastidores.
Isso o fez chegar presidência da Câmara e à reeleição para o cargo.
Agora ele considera fundamental reeleger seu sucessor para, quando deixar o cargo, manter-se como um deputado poderoso, com autoridade para negociar cargos e verbas para seus pares junto ao governo federal.
Seria uma situação semelhante à que Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) conquistou no Senado, depois de se reeleger no comando da Casa e fazer de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) o seu sucessor.
Alcolumbre comandou a distribuição de verbas do Orçamento secreto, no governo Bolsonaro, negociou indicações de ministros, no governo Lula, e agora desponta como o candidato mais forte à sucessão de Pacheco.
Para conseguir eleger seu sucessor, Lira fechou acordo com a bancada evangélica que inclui a aprovação do PL que equipara ao crime de homicídio o aborto após 22 semanas de gestação, mesmo nos casos hoje considerados legais, como os de estupro.
Ele não contava, no entanto, com a reação a sociedade ao projeto. Ficou em apuros diante das manifestações e passeatas ocorridas pelo país.
Por isso Arthur Lira resolveu sinalizar que não pretende votar o projeto às pressas, como o fez, na semana passada, na votação da urgência para tramitação.do texto.
Mas o presidente da Câmara não pode e não quer desmontar a fama de cumpridor de acordos que construiu nesses anos.
Para isso, Arthur Lira tentará convencer a bancada evangélica a aceitar o protelamento do votação para depois das eleições municipais, mas com o compromisso de que, logo após, aprova o projeto de criminalização do aborto em casos de estupro.
Será difícil. O autor do projeto, Sóstenes Cavalcante, tem dito que não aceitará protelar a votação.
Mas, se Lira conseguir, estará a um passo de enganar a opinião pública com a enrolação e apresentar o fato consumado na virada do ano. Quando, quem sabe, as ruas esquecerão o assunto.
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