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Para quem teme a tutela, Braga Netto é escolha perigosa de Bolsonaro a vice
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Têm crescido no Planalto e entre aliados do presidente Jair Bolsonaro os rumores de que o ministro da Defesa, general Walter Souza Braga Netto, pode ser ungido vice na chapa à reeleição para a Presidência da República.
Em defesa da escolha, o argumento de alguns bolsonaristas é o de que ter como vice um general - fortalecido por ter acabado de deixar o comando das três forças militares - serviria de blindagem contra qualquer possibilidade de impeachment do presidente em seu segundo mandato. Os políticos teriam medo da reação militar.
De quebra, na campanha eleitoral, Braga Netto como vice ainda poderia trazer o voto unificado da caserna e demais forças militarizadas do país para Bolsonaro.
O problema é que nem sempre as coisas funcionam como planejado. Veja o caso do atual vice-presidente, também um general. Hoje ele e Bolsonaro estão praticamente rompidos. Hamilton Mourão poderia ter assinado uma carta endereçada a Bolsonaro em termos semelhantes e esta:
[...] Escrevo [...] a propósito do intenso noticiário destes últimos dias e de tudo que me chega aos ouvidos das conversas no Palácio. [...] Sempre tive ciência da [sua] absoluta desconfiança [...] e do seu entorno em relação a mim [...]. Passei os quatro primeiros anos de governo como vice decorativo. [...] Perdi todo protagonismo [...] que tivera no passado e que poderia ter sido usado pelo governo. Só era chamado para resolver [...] crises. [...] Finalmente, sei que [..] não tem confiança em mim[...], hoje, e não terá amanhã. Lamento, mas esta é a minha convicção.
Retirei do texto os trechos que revelariam o autor e para quem ele escreveu. Trata-se da carta que o então vice-presidente Michel Temer enviou à chefe de governo, Dilma Rousseff.
Além de vice, Temer também era presidente nacional do PMDB. Por conta do rompimento, seu partido acabou votando em peso pelo impeachment de Dilma. E o peemedebista virou presidente da República.
Temer não havia reclamado completamente sem razão. Dilma era uma chefe autoritária e desconfiada, difícil de conviver.
Outro presidente assim autoritário e desconfiado foi Fernando Collor de Mello. Acabou rompendo com seu vice, Itamar Franco, que tornou-se decisivo para o afastamento do chefe em dezembro de 1992. Itamar assumiu o comando do Planalto, fez o Plano Real e elegeu seu sucessor, Fernando Henrique Cardoso.
Moral da história: presidentes autoritários e desconfiados costumam ter problemas com seus vices. Estes, se fortes, têm grandes chances de sucesso na derrubada do chefe.
O general Braga Netto e o presidente Jair Bolsonaro, hoje, se dão muito bem. Assim como outros generais que passaram pelo Planalto e que eram amigos do presidente. Como, por exemplo, Carlos Alberto dos Santos Cruz, que foi ministro-chefe da Secretaria de Governo, e Otávio Santana do Rêgo Barros, ex-porta-voz da Presidência da República. Não aguentaram o tratamento que receberam do presidente.
Militares de alta patente não gostam de ser tratados com desrespeito e grosseria, como Bolsonaro tem feito com Mourão. Poucos tomam atitudes tão genuflexívas quanto o general e ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello.
Se o presidente autoritário de plantão tiver um vice forte -na política, ou na caserna-, pode ter sérios problemas num eventual segundo mandato.
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