Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Chacina de Sinop tem a marca do aumento do número de CACs no país
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Na tarde da terça-feira (21), Edgar Ricardo de Oliveira perdeu uma aposta em jogo de sinuca na cidade de Sinop (MT) para Getúlio Rodrigues Frazão Junior. Edgar saiu cabisbaixo. Mas voltou ao bar com o amigo Ezequias Souza Ribeiro para tentar nova aposta. Perdeu novamente.
Ezequias rendeu Getúlio e o levou para um canto do bar com outros que assistam à partida, enquanto Edgar correu para o carro e voltou com uma espingarda calibre 12.
Trata-se uma das armas de caça mais potentes que existem. Sua munição costuma ser um cartucho composto de bolinhas de chumbo, mas também pode ser usada com projéteis de diâmetro de 18,5 milímetros.
Há fotos do atirador com boné de campanha eleitoral de Jair Bolsonaro (PL) à reeleição para o Palácio do Planalto. Mas isso não importa tanto quanto o fato de que ele possuía armas legalmente. Edgar era registrado em clubes de Caçadores, Atiradores esportivos e Colecionadores (CACs), a cujos inscritos são facilitados o porte e a posse de armas legalmente.
Ele entrou atirando no bar. Matou Getúlio, a filha de 12 anos e outros cinco frequentadores. Junto com Ezequias, pegaram o dinheiro das apostas e alguns pertences do bar. E fugiram.
O comparsa de Edgar foi encontrado pela polícia. Teria resistido à bala, segundo a versão oficial, e acabou morto nesta Quarta-feira de Cinzas. Mas Edgar, antes de ser localizado, mandou seu advogado avisar no mesmo dia que se entregaria, o que de fato acabou ocorrendo na quinta-feira.
Edgar tem passagem na polícia por violência doméstica e costumava postar vídeos nas redes sociais vangloriando-se das armas e de sua utilização. Ezequias tem passagens pela polícia por porte de arma ilegal, roubo, formação de quadrilha, lesão corporal e ameaça, além de possuir um mandado de prisão em aberto. Gente assim passou a ter acesso fácil ao uso de armas.
Levantamento do Instituto Sou da Paz aponta que o número de armas nas mãos dos civis disparou no governo Bolsonaro. Chegou a 2.965.439 no final de 2022. É mais do que o dobro do dado de 2018, quando havia 1.320.582 armas de fogo nas mãos de civis.
Junto a estes números, não vimos apenas crescer casos estranhos no país, semelhantes aqueles dos Estados Unidos, que tanto nos impressionavam no passado, de malucos atirando a esmo, ou de pequenas discussões que se tornam grandes assassinatos.
Também o crime organizado se beneficiou desse incremento no número de armas. O número de armas furtadas, roubadas, extraviadas ou perdidas pertencentes a CACs aumentou 36% em 2021 em relação ao ano anterior, segundo parlamentares do PSB que apresentaram projeto de lei estabelecendo a prisão de CACs que não comunicarem o extravio de suas armas.
No início deste mês, o Ministério da Justiça editou portaria obrigando os proprietários de armas de fogo a cadastrar os equipamentos no Sistema Nacional de Armas (Sinarm), da Polícia Federal, até 2 de abril, o que não era exigido.
Mas a bancada bolsonarista já se mobiliza para tentar barrar medidas do atual presidente da República contra a flexibilização do porte e posse de armas promovida pelo governo Bolsonaro.
Há uma verdadeira guerra de bastidores sendo travada pelo governo contra a bancada da bala, para tentar estancar a proliferação das armas no país e, consequentemente, evitar casos como o corrido no bar de Sinop.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.