Tales Faria

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Opinião

Bolsonaro protagonizou Planos A, B e C do golpe de Estado

O ex-presidente Jair Bolsonaro não só planejou o golpe de Estado como protagonizou as várias fases da tentativa de derrubada das instituições democráticas brasileiras.

As provas levantadas pela Polícia Federal e pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), mostram que o golpe de Bolsonaro contra a democracia estava em andamento e que ele comandou pessoalmente as duas primeiras fases da operação.

A primeira fase foi marcada pela tentativa de convencer militares e chefes de Estado estrangeiros de que deveriam apoiar uma sublevação contra as eleições presidenciais de 2022.

Para essa fase, o principal argumento era o de que as urnas eletrônicas poderiam ser fraudadas. Diante da resistência da Justiça Eleitoral e do STF, Bolsonaro incorporou à narrativa a argumentação de que ministros do Supremo estavam mancomunados com a fraude.

Apontou suas baterias contra Alexandre de Moraes, Luiz Roberto Barroso, Edson Fachin, Cármen Lúcia e até Gilmar Mendes. Deste último, Bolsonaro chegou a esperar algum apoio que não obteve.

O ex-presidente também esperava obter argumentos técnicos capazes de convencer interlocutores e a opinião pública de que, se não foram fraudadas, pelo menos havia a possibilidade de as runas o serem.

Não conseguiu, nem mesmo com o apoio do ministro da Defesa e de hackers como o que lhe foi apresentado pela deputada bolsonarista Carla Zambelli.

Bolsonaro notou que estava à beira do fracasso de seu Plano A. Partiu para a reunião ministerial de julho de 2022, em que tentou convencer seus ministros a contribuir para o esforço de virada de mesa.

Mas, já então, Bolsonaro estava desesperado, como deixa claro a gravação liberada nesta sexta-feira, 9, pelo ministro Alexandre de Moraes.

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Logo após a reunião ele tentou o apoio de chefes de Estado estrangeiros.

Daí aquele encontro no Palácio da Alvorada com embaixadores sediados no Brasil. Recebeu em troca um recado explícito do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de que não contasse com os norte-americanos.

A resistências dos EUA lançou por terra a possibilidade de apoio dos militares brasileiros, que não abrem mão de uma relação quase subordinada aos colegas dos EUA.

A derrota nas urnas em outubro de 2022 marcou o enterro do já moribundo Plano A. Bolsonaro passou então a trabalhar o Plano B.

Nessa fase, o fundamental era uma sublevação popular capaz de obrigar o novo presidente da República a convocar uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

Bolsonaro esperava que, com a bagunça nas ruas e os militares sendo chamados a intervir via GLO, os generais do comando das Forças Armadas, então, mudariam de posição e aceitariam dar o golpe.

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Mas nem a GLO foi convocada, nem a bagunça promovida na Praça dos Três Poderes se espraiou pelo país. As instituições democráticas resistiram, diferentemente do que esperava o ex-presidente da República. E o Plano B fracassou.

Agora só resta a Bolsonaro um Plano C: evitar que ele seja preso. Nessa fase, há três possibilidades:

  • vitória judicial, o que é praticamente impossível;
  • reação do eleitorado bolsonarista, coisa contra a qual os ministros do STF e a Polícia Federal estão se precavendo ao procurar tornar mais robusto o processo judicial, inclusive demorando mais tempo para convencer a opinião pública;
  • e, por fim, uma fuga para o exílio, da qual Alexandre de Moraes também se precaveu mandando recolher o passaporte do ex-presidente. Mas a fuga é sempre uma possibilidade.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL