Tales Faria

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Opinião

Sempre haverá um 'Silvio Santos vem aí' na política brasileira

A eleição de Fernando Collor de Mello como presidente da República em 1989, tendo o petista Luiz Inácio Lula da Silva como segundo colocado só confirma a previsão, feita naquela época por três senadores: de que a vitória seria de um outsider na política.

Collor era outsider, e o presidente do PT, um novato cujo partido tanto criticava a política tradicional que, embora tenha assinado a Constituição e 1988, votou contra a aprovação em plenário.

Já os três senadores que apostaram no outsider Silvio Santos eram caciques do maior partido de direita da época, o PFL: Marcondes Gadelha (PB), Hugo Napoleão (PI) e Edson Lobão (MA). Mas não obtiveram a concordância da sigla.

O PFL não bancou a candidatura. Seguiu com Aureliano Chaves, vice-presidente da República e ex-governador de Minas Gerais.

Os três senadores tinham por trás de si o então mandatário do Palácio do Planalto, José Sarney, que era alvo de críticas de praticamente todos os candidatos a presidente.

Sarney ainda detinha o poder da Presidência da República e insistiu em promover nos bastidores um candidato seu, usando como arautos os três senadores do PFL.

Silvio, que havia recusado antes outros convites para entrar na política, dessa vez cedeu à ideia de concorrer a presidente tendo o apoio do próprio mandatário da República. Mas teve que se inscrever por uma sigla desconhecida, o PMB.

Era um outsider em confronto com políticos tradicionais considerados favoritos na disputa pela Presidência, como Ulysses Guimarães (MDB), o próprio Aureliano, Mário Covas (PSDB), Leonel Brizola (PDT) e Paulo Maluf (PDS), entre outros.

Mas aquele era o ano dos outsiders. Logo Silvio Santos passou a disputar as melhores posições nas pesquisas eleitorais com outros dois nomes então considerados também outsiders: Lula e Colllor.

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Lula conquistou o apoio das esquerdas. Collor tornou-se o favorito da elite empresarial, diante do fracasso nas pesquisas dos nomes tradicionais.

Silvio, por ser dono de uma emissora de TV, sofria veto de Roberto Marinho, dono das organizações Globo. Mas tornou-se tão forte que precisou ser retirado à força da disputa.

Coube a Eduardo Cunha, então um obscuro tesoureiro de campanha de Collor no Rio de Janeiro, descobrir a falha jurídica na candidatura de Silvio Santos que o retirou da disputa: o PMB não havia realizado as convenções estaduais exigidas pela legislação eleitoral.

Collor venceu, mas seu impeachment acabou servindo de argumento para o eleitorado recusar vitória de outsiders nas eleições seguintes, até a derrocada de Dilma Rousseff, em 2016.

Seu sucessor, um político tradicional, Michel Temer (MDB), nem sequer conseguiu se candidatar à reeleição.

Foi eleito presidente outro outsider: Jair Bolsonaro (então no PSL). Uma demonstração de que nomes de fora da política, como Silvio Santos, sempre virão por aí em eleições no Brasil.

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No Brasil e no mundo. Que o diga Donald Trump, nos EUA, e Javier Milei, na Argentina, entre outros.

Na política, sempre haverá um "Silvio Santos vem aí".

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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