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Thaís Oyama

David Uip ajudaria no debate se contasse se usou cloroquina

Colunista do UOL

07/04/2020 10h21

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Líderes populistas, e uma boa parte dos motoristas de táxi do mundo, têm sempre uma solução simples para problemas complexos. A pandemia de coronavírus é um problema complexo. A solução, portanto, só pode ser simples. O presidente Jair Bolsonaro acha que a chave para o problema atende pelo nome de cloroquina - ou hidroxicloroquina, a versão mais bem acabada do antimalárico de ação antiinflamatória, cujo uso para pacientes graves e críticos de Covid-19 já vem sendo aplicado no Brasil.

Dificilmente o medicamento poderia ter pior garoto propaganda que o presidente Bolsonaro. E isso é apenas em parte culpa da pouca credibilidade que o chefe do Executivo conquistou com suas declarações irresponsáveis sobre a pandemia. A influência deletéria de Bolsonaro na discussão se dá também e sobretudo por causa do alinhamento automático que toda declaração sua causa. Diante de qualquer fala do Mito, apoiadores fanáticos se posicionam ao seu lado sem acionar um único neurônio. Da mesma forma, críticos do presidente tomados pela cegueira do anti-bolsonarismo se alinham sem pestanejar contra tudo o que o ex-capitão for a favor.

O médico David Uip foi contagiado pelo coronavírus e adoeceu. Até onde se sabe, ele não chegou a evoluir para o estágio de paciente grave nem crítico. Já curado, foi perguntado pelo apresentador Datena se o seu tratamento incluiu a cloroquina. Respondeu que não falaria sobre isso. Ao se negar a lançar mão da sua autoridade de infectologista respeitado para contar a experiência pessoal de paciente de Covid-19 que recebeu (ou não recebeu ?) cloroquina, o médico David Uip contribui para manter a discussão no nível em que se encontra hoje, nas redes sociais e nas rodas (agora também virtuais) de família: uma conversa inócua em que todos têm certezas, e quase ninguém, informação.