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Thaís Oyama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro blefa ao dizer que tem bala de prata

O ex-presidente Jair Bolsonaro em evento do PL no Rio Grande do Sul - Silvio Avila/AFP
O ex-presidente Jair Bolsonaro em evento do PL no Rio Grande do Sul Imagem: Silvio Avila/AFP

Colunista do UOL

27/06/2023 11h51

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Sob ameaça de uma iminente goleada do TSE e com 15 outras ações contra ele no mesmo tribunal, Jair Bolsonaro blefa ao dizer que tem uma "bala de prata" para 2026.

Que ele consiga preservar o próprio pescoço — no TSE ou num eventual recurso ao Supremo—é algo em que nem seus advogados acreditam.

Do ponto de vista jurídico, esmiuçados argumentos e contra-argumentos no tribunal eleitoral, nada de novo restará para ser apresentado à Corte constitucional.

Do ponto de vista político, a coisa é ainda pior.

Entre as acusações a que Bolsonaro responde no julgamento em curso, está justamente a de atacar ministros do Supremo — corte para a qual seu maior adversário, Lula, indicou até hoje mais nomes que todos os outros presidentes da República (nove, desde o seu primeiro mandato, em 2003).

O que Bolsonaro disse na entrevista a Mônica Bergamo, portanto, só faria sentido se ele estivesse se referindo a um candidato para 2026 que não ele.

Mas aí também a situação complica, dado que o próprio ex-presidente por ora exclui da categoria "bala de prata" os nomes que hoje encabeçam as pesquisas sobre as preferências bolsonaristas em caso de inelegibilidade do mito: o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas ("Teria [ainda] que conversar com ele") e da sua mulher, Michelle Bolsonaro ("Não tem experiência").

Resta a hipótese de o ex-capitão estar divagando sobre a possibilidade de apontar o dedo para nomes bem menos votados, como o do seu primogênito, Flávio Bolsonaro, ou do ex-ministro Gilson Machado, que o seu ex-secretário Fabio Wajngarten tenta alavancar.

Nesse caso, porém, o ex-capitão terá de conversar com a política. E a política, hoje, não arriscaria seus anéis num obscuro ex-ministro sanfoneiro nem em um candidato cujo sobrenome tende a "estreitar" o cardápio de eleitores concentrando-o na direita em vez de ampliá-lo para o centro.

O mundo mudou, o tempo corre contra o ex-capitão e o pêndulo eleitoral deixa o campo dos "outsiders" para voltar para o campo da política. Bolsonaro, ex-presidente derrotado e em breve inelegível, logo deixará de ser o Mito. E sem a anuência dos caciques, sem dinheiro e sem máquina partidária, não dá para sonhar em ser cowboy.