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Thaís Oyama

REPORTAGEM

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Pesquisa mostra: sim, "direita surgiu de verdade" no país

Apoiador do presidente Jair Bolsonaro carrega bandeira do Brasil - AFP
Apoiador do presidente Jair Bolsonaro carrega bandeira do Brasil Imagem: AFP

Colunista do UOL

02/11/2022 04h00

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Esta é parte da newsletter da Thaís Oyama enviada ontem (1). Na newsletter completa, apenas para assinantes, a colunista mostra que 40% dos brasileiros hoje se declaram politicamente "de direita". O texto traz ainda a coluna "Em off", que fala de como será o ministério Lula segundo um integrante do primeiro escalão petista. Quer receber antes o pacote completo, com a coluna principal e mais informações, no seu email, na semana que vem? Inscreva-se aqui.

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Pesquisa mostra: sim, "direita surgiu de verdade" no país

Derrotado nas eleições, o destino do ainda presidente Jair Bolsonaro é incerto. Já o de suas bandeiras na área de costumes é mais claro — essas devem permanecer tremulando, com ou sem o ex-capitão a segurar seus mastros. Ontem, no primeiro pronunciamento feito depois das eleições, Bolsonaro disse que a "direita surgiu de verdade em nosso país".

Fato.

Pesquisa Genial/Quaest feita com 2 mil pessoas entre os dias 16 e 18 de outubro mostrou que a maior parte dos brasileiros (40%) hoje se descreve como "de direita', enquanto apenas 19% se dizem de esquerda e 19%, de centro (os 22% restantes não souberam dizer ou não responderam).

Até 2018, brasileiros eram de centro ou de esquerda

Em 2006, último ano do primeiro governo Lula, apenas 26% dos brasileiros se declaravam de direita, segundo a série histórica do Estudo Eleitoral Brasileiro (Eseb).

"Depois de 64, ser de esquerda significava ser 'de oposição', enquanto ser de direita estava muito associado à defesa da ditadura militar. Era difícil auto-declarar-se um integrante desse campo", lembra o cientista político e diretor da Quaest, Felipe Nunes."Os brasileiros se diziam de centro ou de esquerda".

Na política, a economia passou a ser o tema dominante nos embates eleitorais travados a partir de 1990, com a questão do papel do estado e das privatizações apartando as águas nas disputas presidenciais, a maior parte delas entre o PT e PSDB.

Bolsonaro tirou a direita do armário

Foi em 2018, com a ascensão de Jair Bolsonaro que a pauta eleitoral passou a ser dominada pela discussão moral e de costumes.

Temas como a legalização do aborto, liberação das drogas, redução da maioridade penal e ampliação do uso de armas ganharam força naquele ano, atravessaram o governo de Jair Bolsonaro e continuaram presentes na campanha encerrada na semana passada.

Pesquisas atestam que a opinião pública brasileira sempre teve um viés conservador nos costumes. À exceção da ampliação do uso de armas, que divide o país, a imensa maioria da população é a favor da redução da maioridade penal, contra o aborto e a legalização das drogas.

Ocorre que essas opiniões não se refletiam no autoposicionamento ideológico dos entrevistados. "Embora tivessem opiniões conservadoras, a maioria deles, quando convidados a se auto-definir politicamente, evitavam se dizer de direita", afirma Nunes.

Isso mudou com o aparecimento em cena de Jair Bolsonaro. Em 2018, quando o ex-capitão concorreu à presidência da República, o país assistiu a uma "explosão" da direita.

Na série histórica do Eseb, a porcentagem de pessoas que declarou se posicionar nesse campo atingiu o recorde: 43%. Quatro anos depois, essa taxa história se mantém no mesmo patamar, de 40%.

A pesquisa da Quaest reforça a ideia de que Jair Bolsonaro não inventou o conservadorismo de costumes no Brasil — foi antes a sua expressão antropomórfica. O ex-capitão tirou a direita do armário —e ela agora não depende dele para se fazer ouvir.

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