Topo

Thaís Oyama

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Nas urnas, Bolsonaro pode valer mais 'morto' do que vivo

O ex-presidente Jair Bolsonaro, que pode se tornar inelegível ainda neste mês - Reprodução/YouTube
O ex-presidente Jair Bolsonaro, que pode se tornar inelegível ainda neste mês Imagem: Reprodução/YouTube

Colunista do UOL

22/06/2023 11h46

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Se as eleições para presidente da República fossem hoje, o apoio de Jair Bolsonaro a um candidato, "muito provavelmente", já seria suficiente para levar esse candidato ao segundo turno.

A afirmação, do cientista político Felipe Nunes, se baseia nos números colhidos na semana passada pela Quaest, instituto que dirige. Segundo a pesquisa, 33% dos brasileiros tenderiam a votar num candidato apoiado pelo ex-presidente.

É um alto potencial de transferência de votos — idêntico, por exemplo, ao que tinha Lula em setembro de 2018, segundo o Datafolha.

Naquela ocasião, o petista passou o bastão para Fernando Haddad às vésperas do primeiro turno e fez com que, em menos de um mês de campanha oficial, o ex-prefeito de São Paulo saísse das urnas com 45% dos votos.

Em 2010, com uma taxa de transferência de votos ainda mais alta (45%, também segundo o Datafolha), Lula logrou feito ainda maior: elegeu a improvável Dilma Rousseff — epíteto "o poste".

Jair Bolsonaro — da iminente decretação da sua inelegibilidade até a data da próxima eleição, em 2026— pode minguar ou crescer como cabo eleitoral, no que dependerá em grande medida da performance do governo Lula.

Mas, no presente momento, à beira da inelegibilidade, o ex-presidente representa uma força inquestionável, como sabem, por exemplo, integrantes do PL que jamais admitirão em público o que dizem à boca pequena: Bolsonaro vale mais "morto" do que vivo.

Significa que, impossibilitado de concorrer à Presidência, o ex-capitão passará de locomotiva eleitoral do partido — com o potencial de arrastar consigo filhos, problemas na Justiça e taxa de rejeição— a um bem mais administrável garoto-propaganda.

Resta saber quem Bolsonaro irá "vender".

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), é, segundo todas as últimas pesquisas, o preferido dos bolsonaristas para substituir o seu mito.

Gilberto Kassab, no entanto, secretário e articulador político do governador, no que muitos desconfiam que seja apenas uma manobra para preservar Tarcísio de ataques precoces, insiste em dizer que ele deve concorrer não à Presidência, mas à reeleição, de modo a "evitar repetir o erro de Doria" — numa referência ao ex-governador João Doria que, em sua tentativa frustrada de concorrer ao Planalto em 2022, nunca conseguiu passar de 5% de intenção de votos nas pesquisas.

Segundo Kassab, em 2026, Tarcísio poderá vir a apoiar um nome como o do governador de Minas, Romeu Zema (Novo), ou da senadora e ex-ministra de Bolsonaro Teresa Cristina (PP).

Mesmo que a elite política consiga se unir em torno de um nome anti-Lula —como NÃO aconteceu na busca pela "terceira via" em 2022— ainda terá de fazer esse nome ser palatável para o eleitorado antipetista. E porque nessa tarefa o papel de Bolsonaro será fundamental é que a direita passará a dar vivas ao cabo eleitoral tão logo o candidato esteja morto.