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Thaís Oyama

Um aliado como Aras não se acha tão fácil

O procurador-geral da República, Augusto Aras: couro duro - TSE
O procurador-geral da República, Augusto Aras: couro duro Imagem: TSE

Colunista do UOL

01/08/2020 10h35

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Em novembro, rojões explodirão no céu de Brasília — e eles virão do Palácio do Planalto.

Nesse mês, o ministro Celso de Mello se despedirá do Supremo Tribunal Federal em direção à aposentadoria compulsória determinada para os magistrados que completam 75 anos de idade.

Bolsonaro acha que o decano é seu inimigo pessoal.

O ministro Alexandre de Moraes é "contra" o governo, mas Celso de Mello é diferente: é o "perseguidor" número 1 do presidente no STF, na visão do próprio e também de ministros palacianos.

Mello, relator do inquérito sobre a denúncia do ex-ministro Sérgio Moro de que Bolsonaro tentou interferir na Polícia Federal, já afirmou que o presidente não está à altura do cargo e, em mensagem de Whatsapp que veio à público, chegou a comparar o momento que vive o Brasil com o da queda da República de Weimar após a ascensão de Hitler.

Bolsonaro ainda não decidiu quem irá indicar para. o lugar do decano, mas continua inclinado pelo nome do atual ministro da Justiça, André Mendonça - que, além de aliado fiel, é também "terrivelmente evangélico", como o presidente prometeu que seria o próximo ministro de sua cota. O não menos leal ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, permanece no banco de reservas do presidente.

No entorno de Bolsonaro, generais palacianos fazem campanha pela escolha do jurista Ives Gandra Martins, respeitado por seus pares e próximo dos militares. Já o nome preferido do vice, Hamilton Mourão, é o do desembargador Carlos Eduardo Thompson Flores. Ex-presidente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, o desembargador foi cotado para substituir Moro na pasta da Justiça.

O nome de Augusto Aras chegou a ser cogitado publicamente pelo próprio Jair Bolsonaro, mas, nesse caso, o alinhamento do Procurador-Geral da República com o presidente é o maior empecilho para a sua indicação à Corte.

Desde que assumiu a PGR, em setembro do ano passado, Aras rejeitou pedidos de parlamentares e partidos para abrir processos de impeachment contra ministros do governo e investigar possíveis crimes de Bolsonaro na Presidência; apoiou o governo e contrariou o Supremo na decisão tomada pela Corte de atribuir aos estados e municípios a responsabilidade pela definição de políticas de isolamento social na pandemia; manifestou-se contra a divulgação do vídeo da fatídica reunião de governo que expôs ministros e o presidente; e alterou o estatuto da Escola Superior do Ministério Público da União para destituir conselheiros e assim neutralizar a

"linha de doutrinação" à esquerda que ele considerava dominar a escola. As atitudes do chefe da PGR geraram forte reação dos procuradores, que passaram a criticá-lo em público.

Aras parece que até agora não se abalou com isso.


Ontem, depois de bater boca com os colegas numa reunião remota em que voltou a atacar a Lava Jato, decretou o fim do evento, levantou-se da cadeira e deixou os participantes falando sozinhos.

Um militar do Palácio reconhece o alinhamento de Aras com o governo e afirma que, em função disso, as chances de o presidente colocá-lo no STF agora são nulas. O mandato de Aras vai até o final de 2021 e Bolsonaro nem pensa em substituí-lo antes disso. Como diz o assessor da Presidência: "Bom que nem ele vai ser difícil de achar".