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Thaís Oyama

O perigo de Bolsonaro fazer live no closet e propaganda para amigos

Colunista do UOL

09/11/2020 10h33

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Na noite de sexta-feira, o presidente Jair Bolsonaro usou seu closet no Palácio da Alvorada para fazer uma live falando sobre o apagão de energia no estado do Amapá. Nas imagens do vídeo, avistava-se uma parte do guarda-roupa presidencial: ternos pendurados em cabides, caixas e uma mala na prateleira.

No dia seguinte, o presidente fez outra transmissão ao vivo, desta vez da biblioteca do Alvorada. Lá, afirmou que, a partir de hoje, segunda-feira, passará a veicular lives diárias para apoiar candidatos a prefeito e vereador de sua preferência. "Será o nosso horário eleitoral gratuito", disse.

O presidente já havia usado suas transmissões semanais para fazer propaganda do próprio filho, Carlos Bolsonaro; do amigo Paulo Chuchu; e da ex-assessora Wal do Açaí, todos candidatos nesta eleição.

No mês passado, apareceu em um vídeo gravado em 2018 em que promovia o cursinho de um amigo, especializado em preparação para exames de seleção na Polícia Federal. "Olá, estudantes da AlfaCon. Vocês que estão se preparando para esse concurso para a Polícia Federal, boa sorte, hein? (...) Estamos juntos. E o ano que vem vou dar posse pra todos vocês. Valeu", disse o chefe do Executivo.

O uso das lives presidenciais em campanhas eleitorais está sendo questionado pela Procuradoria Regional Eleitoral do Rio de Janeiro. A pedido do órgão, o Ministério Público Estadual vai investigar se a prática fere a Lei das Eleições, que veda ao agente público a "cessão ou uso de bens móveis ou imóveis" pertencentes à União em benefício de candidatos.

Embora o presidente use seus canais pessoais no Facebook e no YouTube nas lives, especialistas consideram que o uso das instalações e equipamentos da presidência ferem a lei.

Bolsonaro não vê nada demais em usar suas aparições ao vivo para fazer campanha eleitoral para o filho. Também não se importa em ser garoto-propaganda de cursinhos nem em fazer transmissões oficiais de dentro do closet do seu quarto.

Bolsonaro não liga para formalidades — é muito simples e espontâneo, dizem amigos e assessores.

Pelo critério bolsonarista da escala de gravidade, é irrelevante o uso pelo presidente do equipamento de filmagem e das instalações do Palácio ("bens móveis e imóveis") para promover campanhas amigas.

"O PT roubou bilhões!".

Pela régua dos princípios que norteiam o exercício da função pública, porém, considerar que se pode usar uma câmera de vídeo ou qualquer outro equipamento público para promover interesses particulares equivale a achar que não há nada demais em usar para o mesmo fim órgãos de Estado como a Procuradoria-Geral da República ou a Polícia Federal.

Petistas foram condenados por confundir o público com o privado.

Bolsonaro confunde seu governo com a casa da Mãe Joana.

É bem menos grave, mas não sinaliza nada de bom.