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Lula e Kassab: duas raposas se farejam; Centrão se arma para ser "emirado"
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Diga o que disserem deles, e goste-se ou não de seus métodos e estilos, Luiz Inácio Lula da Silva e Gilberto Kassab são hoje os mais sagazes animais da fauna política brasileira.
Atualmente, um se dedica a farejar o outro.
Lula precisa do presidente do PSD para muito mais que seu projeto de ganhar no primeiro turno. E o presidente do PSD enxerga em Lula o melhor trampolim para impulsionar o grande salto que ele pretende dar no partido que criou há apenas dez anos.
No radar das duas raposas, estão as conveniências e inconveniências de uma aliança já no primeiro turno das eleições — aliança que passa pelas hipóteses de apoio do PT a candidaturas estaduais do PSD, como a do prefeito Alexandre Kalil, em Minas Gerais; desistência do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, de concorrer à Presidência da República em troca do apoio de Lula à sua permanência no cargo por mais dois anos; e escolha para vice na chapa de Lula de um nome do PSD, ou "embarrigado" pelo partido, sendo Simone Tebet (MDB) a mais recente cogitação na segunda categoria, que já inclui, em viés de baixa, o ex-tucano Geraldo Alckmin.
Mas do radar de Lula e Kassab constam também cenários de 2023 que começam a se cristalizar, entre eles o que indica que os partidos do Centrão não estarão com o petista numa eventual vitória, mas em oposição a ele.
A ideia de que o bloco mais fisiológico da Câmara — cujo núcleo duro é formado pelo PP, do ministro Ciro Nogueira; PL, do ex-mensaleiro Valdemar Costa Neto; e Republicanos, do pastor Marcos Pereira —sempre estará com o governo, qualquer que seja ele, valia até o advento do Orçamento do relator.
Com os R$ 16,5 bilhões agora disponíveis para as emendas do gênero, os partidos ganharam um atalho para acessar o erário, do qual o Centrão sempre foi dependente químico. Assim, o alinhamento com o Executivo deixou de ser um ativo imprescindível — mais vantajoso é "conversar" com o governo encarnando a pedra no seu sapato, ou melhor, pedregulho, que é o que o Centrão almeja virar.
Em 2022, PL, PP e Republicanos intencionam usar o bilionário fundo partidário para turbinar suas bancadas de modo a transformar o bloco em uma espécie de emirado no Congresso. A ideia dos dirigentes dos três partidos é passar da atual soma de 116 deputados federais para algo em torno de 160.
Pelos cálculos de petistas, a base de Lula na Câmara, em caso de vitória, ficaria em torno de 150 parlamentares, somados deputados do PSB, PSOL, PV, PC do B e PDT.
É nessa aritmética que a adesão ao PT de partidos como o MDB e o PSD de Kassab passam a ser cruciais para desempatar o jogo — com a vantagem competitiva, para Kassab, de que seu partido não tem a fartura de caciques que tem o MDB.
Lula mira 2023 quando trabalha para amarrar Kassab como parceiro de poder e não como aliado de ocasião. Kassab quer adiar até onde puder a aliança para negociar o seu passe o mais caro possível.
Os próximos capítulos da temporada eleitoral vão depender da coreografia das raposas.
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