Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Lula está certo: Bolsonaro quer é "causar". O golpe fica para depois
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
"Eu acho que o Bolsonaro foi estúpido quando fez essa decisão que ele tomou", disse o ex-presidente Lula em uma entrevista coletiva ontem.
Deu para ouvir a decepção dos youtubers amigos que compunham a plateia.
Ao finalmente comentar o indulto dado pelo presidente Jair Bolsonaro ao deputado bolsonarista Daniel Silveira, o petista frustrou quem esperava dele um discurso de estadista aferrado na defesa das instituições democráticas.
Lula preferiu o rés-do-chão.
"Eu nem comentei nada porque tudo o que ele (Bolsonaro) queria era o que aconteceu. Ele abafou o carnaval. Ficou quinta, sexta, sábado, domingo, segunda e terça no auge do noticiário".
O tirocínio político do petista, aliado ao fato de que boi preto conhece boi preto, permitiu que ele visse com constrangedora clareza a intenção do ex-capitão: ao afrontar o STF "perdoando" um aliado condenado pelo plenário por 10 a 1, Bolsonaro quis simplesmente "causar" — ou, como disse Lula, ficar "no auge do notíciário", sem qualquer preocupação com o fato de "se a coisa é boa ou ruim".
Bolsonaro tomou a decisão do indulto de supetão.
Antes de anunciá-la na live de quinta-feira passada, consultou, além dos filhos e assessores jurídicos, não mais que uns poucos auxiliares da cozinha do Palácio. Aos ministros mais próximos, limitou-se a enviar, na manhã da mesma quinta-feira, uma enigmática mensagem de WhatsApp com a reprodução do artigo 84 da Constituição — aquele que fala do direito presidencial de conceder indultos.
No seu limitado universo de ideias fixas, Bolsonaro acredita (no que é sempre estimulado por assessores) que o STF persegue o seu governo, é a pedra no sapato que o impede de implementar a agenda conservadora prometida na campanha e foi o primeiro a pisar "fora das quatro linhas da Constituição".
Por esse raciocínio, o ex-capitão, ao conceder o indulto a Silveira, estaria apenas reagindo às "provocações" da Corte — e, de quebra, claro, angariando o estratégico apoio de segmentos que compartilham com ele a mesma avaliação sobre o tribunal: lideranças evangélicas, parlamentares e militares, além dos incorrigíveis bolsonaristas raiz.
Bolsonaro não tem nenhum interesse em criar uma crise institucional agora.
Neste momento, o que ele quer é "ficar no auge do noticiário", jogar uma cortina de fumaça sobre questões impertinentes, como a inflação e o desemprego, e conquistar apoio de segmentos fundamentais para ajudá-lo a vencer as eleições — caso em que, segundo tem dito a aliados, a primeira coisa que fará será trabalhar junto ao Senado para obter o impeachment dos ministros do STF Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso.
Se uma versão tupiniquim da invasão do Capitólio americano ronda a cabeça do ex-capitão, ele sabe que o momento de deflagrá-la ainda está por vir.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.