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Thaís Oyama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lula está certo: Bolsonaro quer é "causar". O golpe fica para depois

Bolsonaro na visita à 27º Agrishow: sempre em campanha, assim como no ataque ao STF  - Isac Nóbrega/PR
Bolsonaro na visita à 27º Agrishow: sempre em campanha, assim como no ataque ao STF Imagem: Isac Nóbrega/PR

Colunista do UOL

27/04/2022 10h20

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"Eu acho que o Bolsonaro foi estúpido quando fez essa decisão que ele tomou", disse o ex-presidente Lula em uma entrevista coletiva ontem.

Deu para ouvir a decepção dos youtubers amigos que compunham a plateia.

Ao finalmente comentar o indulto dado pelo presidente Jair Bolsonaro ao deputado bolsonarista Daniel Silveira, o petista frustrou quem esperava dele um discurso de estadista aferrado na defesa das instituições democráticas.

Lula preferiu o rés-do-chão.

"Eu nem comentei nada porque tudo o que ele (Bolsonaro) queria era o que aconteceu. Ele abafou o carnaval. Ficou quinta, sexta, sábado, domingo, segunda e terça no auge do noticiário".

O tirocínio político do petista, aliado ao fato de que boi preto conhece boi preto, permitiu que ele visse com constrangedora clareza a intenção do ex-capitão: ao afrontar o STF "perdoando" um aliado condenado pelo plenário por 10 a 1, Bolsonaro quis simplesmente "causar" — ou, como disse Lula, ficar "no auge do notíciário", sem qualquer preocupação com o fato de "se a coisa é boa ou ruim".

Bolsonaro tomou a decisão do indulto de supetão.

Antes de anunciá-la na live de quinta-feira passada, consultou, além dos filhos e assessores jurídicos, não mais que uns poucos auxiliares da cozinha do Palácio. Aos ministros mais próximos, limitou-se a enviar, na manhã da mesma quinta-feira, uma enigmática mensagem de WhatsApp com a reprodução do artigo 84 da Constituição — aquele que fala do direito presidencial de conceder indultos.

No seu limitado universo de ideias fixas, Bolsonaro acredita (no que é sempre estimulado por assessores) que o STF persegue o seu governo, é a pedra no sapato que o impede de implementar a agenda conservadora prometida na campanha e foi o primeiro a pisar "fora das quatro linhas da Constituição".

Por esse raciocínio, o ex-capitão, ao conceder o indulto a Silveira, estaria apenas reagindo às "provocações" da Corte — e, de quebra, claro, angariando o estratégico apoio de segmentos que compartilham com ele a mesma avaliação sobre o tribunal: lideranças evangélicas, parlamentares e militares, além dos incorrigíveis bolsonaristas raiz.

Bolsonaro não tem nenhum interesse em criar uma crise institucional agora.

Neste momento, o que ele quer é "ficar no auge do noticiário", jogar uma cortina de fumaça sobre questões impertinentes, como a inflação e o desemprego, e conquistar apoio de segmentos fundamentais para ajudá-lo a vencer as eleições — caso em que, segundo tem dito a aliados, a primeira coisa que fará será trabalhar junto ao Senado para obter o impeachment dos ministros do STF Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso.

Se uma versão tupiniquim da invasão do Capitólio americano ronda a cabeça do ex-capitão, ele sabe que o momento de deflagrá-la ainda está por vir.